terça-feira, 26 de julho de 2011

OS DEFICIENTES MENTAIS E A LOUCURA


371 A opinião de que os deficientes mentais teriam uma alma
inferior tem fundamento?
– Não. Eles têm uma alma humana, muitas vezes mais inteligente do
que pensais, que sofre da insuficiência dos meios que tem para se manifestar,
assim como o mudo sofre por não poder falar.
372 Qual o objetivo da Providência ao criar seres infelizes como
os loucos e os deficientes mentais?
– São Espíritos em punição que habitam corpos deficientes. Esses
Espíritos sofrem com o constrangimento que experimentam e com a dificuldade
que têm de se manifestarem por meio de órgãos não desenvolvidos
ou desarranjados.
372 a É exato dizer que os órgãos não têm influência sobre as
faculdades?
– Nunca dissemos que os órgãos não têm influência. Têm uma influência
muito grande sobre a manifestação das faculdades; porém, não as
produzem; eis a diferença. Um bom músico com um instrumento ruim não
fará boa música, mas isso não o impedirá de ser um bom músico.
* É preciso distinguir o estado normal do estado patológico (3). No estado
normal, a moral (4) suplanta o obstáculo que a matéria lhe opõe. Mas
há casos em que a matéria oferece tanta resistência que as manifestações
são limitadas ou deturpadas, como na deficiência mental e na loucura.
São casos patológicos e, nesse estado, não desfrutando a alma
de toda a sua liberdade, a própria lei humana a livra da responsabilidade
de seus atos.
373 Qual pode ser o mérito da existência para seres que, como
os loucos e os deficientes mentais, não podendo fazer o bem nem o
mal, não podem progredir?
– É uma expiação obrigatória pelo abuso que fizeram de certas faculdades;
é um tempo de prisão.
373 a O corpo de um deficiente mental pode, assim, abrigar um
Espírito que teria animado um homem de gênio em uma existência
precedente?
– Sim. A genialidade torna-se às vezes um flagelo quando dela se
abusa.
* A superioridade moral nem sempre está em razão da superioridade
intelectual, e os maiores gênios podem ter muito para expiar. Daí resulta
freqüentemente para eles uma existência inferior à que tiveram e causa
de sofrimentos. As dificuldades que o Espírito experimenta em suas
manifestações são para ele como correntes que impedem os movimentos
de um homem vigoroso. Pode-se dizer que deficientes mentais são aleijados
do cérebro, assim como o coxo das pernas e o cego dos olhos.
374 O deficiente mental, no estado de Espírito, tem consciência
de seu estado mental?
– Sim, muito freqüentemente; ele compreende que as correntes que
impedem seu vôo são uma prova e uma expiação.
375 Qual é a situação do Espírito na loucura?
– O Espírito, no estado de liberdade, recebe diretamente suas impressões
e exerce diretamente sua ação sobre a matéria. Porém,
encarnado, se encontra em condições bem diferentes e na obrigatoriedade
de só fazer isso com a ajuda de órgãos especiais. Se uma parte ou o
conjunto desses órgãos for alterado, sua ação ou suas impressões, no
que diz respeito a esses órgãos, são interrompidas. Se ele perde os olhos,
torna-se cego; se perde o ouvido, torna-se surdo, etc. Imagina agora que
o órgão que dirige os efeitos da inteligência e da vontade, o cérebro, seja
parcial ou inteiramente danificado ou modificado e ficará fácil compreender
que o Espírito, podendo dispor apenas de órgãos incompletos ou
deturpados, deverá sentir uma perturbação da qual, por si mesmo e em
seu íntimo, tem perfeita consciência, mas não é senhor para deter-lhe o
curso, não tem como alterar essa condição.
375 a É então sempre o corpo e não o Espírito que está desorganizado?
– Sim. Mas é preciso não perder de vista que, da mesma forma como
o Espírito age sobre a matéria, também a matéria reage sobre o Espírito
numa certa medida, e que o Espírito pode se encontrar momentaneamente
impressionado pela alteração dos órgãos pelos quais se manifesta e recebe
suas impressões. Pode acontecer que, depois de um período longo,
quando a loucura durou muito tempo, a repetição dos mesmos atos acabe
por ter sobre o Espírito uma influência da qual somente se livra quando
estiver completamente desligado de todas as impressões materiais.
376 Por que a loucura leva algumas vezes ao suicídio?
– O Espírito sofre com o constrangimento e a impossibilidade de se
manifestar livremente, por isso procura na morte um meio de romper seus
laços.
377 O Espírito de um doente mental é afetado, depois da morte,
pelo desarranjo de suas faculdades?
– Pode se ressentir durante algum tempo após a morte, até que esteja
completamente desligado da matéria, como o homem que acorda se ressente
por algum tempo da perturbação em que o sono o mergulha.
378 Como a alteração do cérebro pode reagir sobre o Espírito
após a morte do corpo?
– É uma lembrança. Um peso oprime o Espírito e, como não teve conhecimento
de tudo que se passou durante sua loucura, precisa sempre de
um certo tempo para se pôr a par de tudo; é por isso que, quanto mais
tempo durar a loucura durante a vida terrena, mais tempo dura a opressão,
o constrangimento após a morte. O Espírito desligado do corpo se ressente,
durante algum tempo, da impressão dos laços que os uniam.
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3 - Estado patológico: situação em que o organismo sofre alterações provocadas por doenças
(N. E.).
4 - A moral: o conjunto das virtudes; a vergonha; o brio (N. E.).

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