quinta-feira, 11 de agosto de 2011

LETARGIA (4), CATALEPSIA (5), MORTES APARENTES



422 Os letárgicos e os catalépticos vêem e ouvem geralmente o
que se passa ao redor deles, mas não podem se manifestar; é pelos
olhos e ouvidos do corpo que vêem e ouvem?
– Não. É pelo Espírito; o Espírito tem conhecimento dos fatos, mas
não pode se comunicar.
422 a Por que não pode se comunicar?
– O estado do corpo se opõe a isso; esse estado peculiar dos órgãos
vos dá a prova de que existe no homem outra coisa além do corpo, uma
vez que o corpo não funciona mais, mas o Espírito ainda age.
423 Na letargia, o Espírito pode se separar inteiramente do corpo,
de maneira a dar-lhe todas as aparências da morte e voltar em
seguida?
– Na letargia, o corpo não está morto, uma vez que há funções vitais
que permanecem. A vitalidade se encontra em estado latente, como na
crisálida, mas não está aniquilada. Portanto, o Espírito está unido ao corpo
enquanto este vive. Mas quando os laços são rompidos pela morte real há
a desagregação dos órgãos, a separação é completa e o Espírito não
retorna mais. Quando um homem aparentemente morto retorna à vida, é
que o processo da morte não estava consumado.
424 Pode-se, por meio de cuidados dados a tempo, reatar os
laços prestes a se romper e tornar à vida um ser que, por falta de
socorro, estaria definitivamente morto?
– Sim, sem dúvida, e tendes a prova disso todos os dias. O magnetismo
é freqüentemente, nesse caso, um poderoso meio, porque restitui ao
corpo o fluido vital que lhe falta e que era insuficiente para manter o funcionamento
dos órgãos.
* A letargia e a catalepsia têm o mesmo princípio, que é a perda momentânea
da sensibilidade e do movimento por uma causa fisiológica.
Diferem em que, na letargia, a suspensão das forças vitais é geral e dá
ao corpo todas as aparências da morte. Na catalepsia, é localizada e
pode afetar uma parte mais ou menos extensa do corpo, de maneira a
deixar a inteligência livre para se manifestar, o que não permite confundi-
la com a morte. A letargia é sempre natural; a catalepsia é algumas
vezes espontânea, mas pode ser provocada ou desfeita artificialmente
pela ação magnética.
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4 - Letargia: estado caracterizado por sono profundo e demorado, causado por distúrbios cerebrais
ou por perda momentânea do controle cerebral. (N. E.).
5 - Catalepsia: estado caracterizado pela rigidez dos músculos e imobilidade; pode ser provocado
por afecções nervosas ou induzidas, como, por exemplo, pelo hipnotismo (N. E.).

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

TRANSMISSÃO OCULTA DO PENSAMENTO



419 Por que a mesma idéia, a de uma descoberta, por exemplo,
pode surgir em diversos lugares ao mesmo tempo?
– Já dissemos que durante o sono os Espíritos se comunicam entre
si. Pois bem, quando o corpo desperta, o Espírito se recorda do que aprendeu
e o homem acredita ser o autor da invenção. Assim, muitos podem
descobrir a mesma coisa ao mesmo tempo. Quando dizeis: uma idéia
está no ar, usais de uma figura de linguagem mais justa do que acreditais;
cada um, sem saber, contribui para propagá-la.
* Nosso próprio Espírito revela, assim, muitas vezes a outros Espíritos
e sem nosso conhecimento o que se faz objeto de nossas preocupações
quando acordados.
420 Os Espíritos podem se comunicar se o corpo está completamente
acordado?
– O Espírito não está fechado no corpo como numa caixa; irradia por
todos os lados. Eis por que pode se comunicar com outros Espíritos, até
mesmo acordados, embora o faça mais dificilmente.
421 Por que duas pessoas perfeitamente acordadas têm muitas
vezes, instantaneamente, a mesma idéia?
– São dois Espíritos simpáticos que se comunicam e vêem reciprocamente
seus respectivos pensamentos, até mesmo quando o corpo não dorme.
* Existe, entre os Espíritos que se encontram, uma comunicação de
pensamentos que faz com que duas pessoas se vejam e se compreendam,
sem ter necessidade dos sinais exteriores da linguagem. Pode-se
dizer que falam a linguagem dos Espíritos.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

VISITAS ESPÍRITAS ENTRE PESSOAS VIVAS


413 Como a alma pode libertar-se do corpo durante o sono, teremos
então uma dupla existência simultânea: a do corpo, que nos dá a
vida de relação exterior, e a da alma, que nos dá a vida de relação
oculta; isso é exato?
– No estado de liberdade, a vida do corpo cede lugar à vida da
alma. Porém, não são, propriamente falando, duas existências; são, antes,
duas fases da mesma existência, uma vez que o homem não vive
duplamente.
414 Duas pessoas que se conhecem podem se visitar durante o
sono?
– Sim, e muitas outras que acreditam não se conhecerem também se
reúnem e conversam. Podeis ter, sem dúvida, amigos num outro país.
O fato de ir se encontrar, durante o sono, com amigos, parentes, conhecidos,
pessoas que podem ser úteis, é tão freqüente que o fazeis todas
as noites.
415 Qual a utilidade dessas visitas noturnas, uma vez que não
fica lembrança de nada?
– É muito comum disso ficar uma intuição, ao despertar, e é freqüentemente
a origem de certas idéias que surgem espontaneamente, sem
explicação clara. São exatamente as adquiridas nessas conversas.
416 O homem pode provocar essas visitas espirituais por sua vontade?
Pode, por exemplo, dizer ao dormir: esta noite quero me encontrar
em Espírito com tal pessoa, falar com ela e dizer-lhe alguma coisa?
– Eis o que se passa: o homem dorme, o Espírito se liberta e o que o
homem tinha programado o Espírito está bem longe de seguir, porque os
desejos e vontades do homem nem sempre são as mesmas do Espírito,
quando desligado da matéria. Isso acontece com os homens espiritualmente
bastante elevados. Há os que passam de outra forma essa sua
existência espiritual: entregam-se às suas paixões ou permanecem na inatividade.
Pode acontecer que, considerando a razão da visita, o Espírito vá
mesmo visitar as pessoas que deseja; mas a simples vontade do homem,
acordado, não é razão para que o faça.
417 Um certo número de Espíritos encarnados podem se reunir
e formar assembléias?
– Sem dúvida nenhuma. Os laços de amizade, antigos ou novos,
fazem com que se reúnam freqüentemente diversos Espíritos, felizes de
estarem juntos.
* Pela palavra antigo é preciso entender os laços de amizade feitos
em existências anteriores. Trazemos, ao despertar, uma intuição das idéias
que adquirimos nessas conversas ocultas, mas ignoramos a sua fonte.
418 Uma pessoa que acreditasse ter um de seus amigos mortos,
embora estivesse vivo, poderia se encontrar com ele em Espírito e
saber que está vivo? Ela poderia, nesse caso, ter uma intuição disso
ao despertar?
– Como Espírito, pode certamente vê-lo e saber de sua situação. Se
não lhe foi imposto como uma prova acreditar na morte de seu amigo, terá
um pressentimento de sua existência, como poderá ter de sua morte.

domingo, 31 de julho de 2011

DA EMANCIPAÇÃO DA ALMA

O SONO E OS SONHOS


400 O Espírito encarnado permanece espontaneamente no corpo?
– É como perguntar se o prisioneiro se alegra com a prisão. O Espírito
encarnado aspira sem cessar à libertação, e quanto mais o corpo for grosseiro,
mais deseja desembaraçar-se dele.
401 Durante o sono, a alma repousa como o corpo?
– Não, o Espírito nunca fica inativo. Durante o sono, os laços que o
prendem ao corpo se relaxam e, como o corpo não precisa do Espírito, ele
percorre o espaço e entra em relação mais direta com outros Espíritos.
402 Como avaliar a liberdade do Espírito durante o sono?
– Pelos sonhos. Quando o corpo repousa, o Espírito tem mais condições
de exercer seus dons, faculdades do que em vigília; tem a lembrança
do passado e algumas vezes a previsão do futuro; adquire mais poder e
pode entrar em comunicação com outros Espíritos, neste mundo ou em
outro. Quando dizeis: tive um sonho esquisito, horrível, mas que não tem
nada de real, enganais-vos; é, muitas vezes, a lembrança dos lugares e
das coisas que vistes ou que vereis numa outra existência, ou num outro
momento. O corpo, estando entorpecido, faz com que o Espírito se empenhe
em superar suas amarras e investigar o passado ou o futuro.
Pobres homens, que pouco conheceis dos mais simples fenômenos
da vida! Julgai-vos sábios e, entretanto, vos embaraçais com as coisas
mais simples; ficais perturbados com a pergunta de todas as crianças: o
que fazemos quando dormimos? Que são os sonhos?
O sono liberta, em parte, a alma do corpo. Quando dormimos, estamos
momentaneamente no estado em que o homem se encontra após a
morte. Os Espíritos que logo se desligam da matéria, quando desencarnam,
têm um sono consciente. Durante o sono, reúnem-se à sociedade
de outros seres superiores e com eles viajam, conversam e se instruem;
trabalham até mesmo em obras que depois encontram prontas, quando,
pelo desencarne, retornam ao mundo espiritual. Isso deve vos ensinar uma
vez mais a não temer a morte, uma vez que morreis todos os dias, segun-
do a palavra de um santo. Isso para os Espíritos elevados; mas para o
grande número de homens que, ao desencarnar, devem permanecer longas
horas nessa perturbação, nessa incerteza da qual já vos falaram, esses
vão, enquanto dormem, a mundos inferiores à Terra, onde antigas
afeições os evocam, ou vão procurar prazeres talvez ainda mais baixos
que os que têm aí; vão se envolver com doutrinas ainda mais desprezíveis,
ordinárias e nocivas que as que professam em vosso meio. O que gera a
simpatia na Terra não é outra coisa senão o fato de os homens, ao despertar,
se sentirem ligados pelo coração àqueles com quem acabaram de
passar de oito a nove horas de prazer. Isso também explica as antipatias
invencíveis que sentimos intimamente, porque sabemos que essas pessoas
com quem antipatizamos têm uma consciência diferente da nossa e
as conhecemos sem nunca tê-las visto com os olhos. Explica ainda a
nossa indiferença, pois não desejamos fazer novos amigos quando sabemos
que há outras pessoas que nos amam e nos querem bem. Em uma
palavra, o sono influi mais na vossa vida do que pensais. Durante o sono,
os Espíritos encarnados estão sempre se relacionando com o mundo dos
Espíritos e é isso que faz com os Espíritos Superiores consintam, sem
muita repulsa, em encarnar entre vós. Deus quis que em contato com o
vício eles pudessem se renovar na fonte do bem, para não mais falharem,
eles, que vêm instruir os outros. O sono é a porta que Deus lhes abriu para
entrarem em contato com seus amigos do céu; é o recreio após o trabalho,
enquanto esperam a grande libertação, a libertação final que deve
devolvê-los a seu verdadeiro meio.
O sonho é a lembrança do que o Espírito viu durante o sono; mas
notai que nem sempre sonhais, porque nem sempre vos lembrais do que
vistes, ou de tudo o que vistes. É que vossa alma não está em pleno
desdobramento. Muitas vezes, apenas fica a lembrança da perturbação
que acompanha vossa partida ou vossa volta, à qual se acrescenta a do
que fizestes ou do que vos preocupa no estado de vigília; sem isso, como
explicaríeis esses sonhos absurdos que têm tanto os mais sábios quanto
os mais simples? Os maus Espíritos se servem também dos sonhos para
atormentar as almas fracas e medrosas.
Além disso, vereis dentro em pouco se desenvolver uma outra espécie
de sonhos (1); ela é tão antiga quanto a que já conheceis, mas a ignorais. O
sonho de Joana D’arc (2), o sonho de Jacó (3), o sonho dos profetas judeus e de
alguns adivinhos indianos; esse sonho é a lembrança da alma quase inteiramente
desligada do corpo, a lembrança dessa segunda vida de que falamos.
Procurai distinguir bem essas duas espécies de sonho dentre os que
vos lembrais; sem isso, caireis em contradições e erros que serão funestos
à vossa fé.
* Os sonhos são o produto da emancipação da alma, que se torna
mais independente pela suspensão da vida ativa e de convivência. Daí
uma espécie de clarividência indefinida, que se estende aos lugares mais
afastados ou jamais vistos e algumas vezes até a outros mundos; daí
ainda a lembrança que traz à memória acontecimentos realizados na
existência atual ou em existências anteriores; a estranheza das imagens
do que se passa ou do que se passou em mundos desconhecidos,
misturadas com coisas do mundo atual, formam esses conjuntos estranhos
e confusos que parecem não ter sentido nem ligação entre si.
A incoerência dos sonhos se explica ainda por lacunas que a lembrança
incompleta do que nos apareceu em sonho produz. Isso seria
como numa narração a qual se tenham truncado frases ao acaso, ou
parte de frases; os fragmentos restantes reunidos perderiam toda a
significação.
403 Por que nem sempre nos lembramos dos sonhos?
– O que chamais de sono é apenas o repouso do corpo, mas o Espírito
está sempre ativo e durante o sono recobra um pouco de sua liberdade
e se corresponde com os que lhe são caros, neste mundo ou em outros.
Sendo o corpo uma matéria pesada e grosseira, dificilmente conserva as
impressões que o Espírito recebeu, visto que o Espírito não as percebeu
pelos órgãos do corpo.
404 O que pensar da significação atribuída aos sonhos?
– Os sonhos não têm o significado que certos adivinhos lhes atribuem.
É um absurdo acreditar que sonhar com isso significa aquilo. São verdadeiros
no sentido de que apresentam imagens reais ao Espírito, mas muitas
vezes não têm relação com o que se passa na vida corporal; são também,
como dissemos, uma lembrança. Algumas vezes, podem ser um pressentimento
do futuro, se Deus o permite, ou a visão do que se passa
nesse momento em um outro lugar para onde a alma se transporta. Não
tendes numerosos exemplos de pessoas que aparecem em sonho e vêm
advertir seus parentes ou amigos do que lhes está acontecendo? O que
são essas aparições, senão a alma ou o Espírito dessas pessoas que vêm
se comunicar com o vosso? Quando estais certos de que o que vistes realmente
aconteceu, não é uma prova de que a imaginação não tomou parte
em nada, principalmente se as ocorrências do sonho não estavam de
modo algum em vosso pensamento enquanto acordados?
405 Vêem-se freqüentemente em sonho coisas que parecem pressentimentos
e que não se realizam; de onde vem isso?
–Elas podem se realizar apenas para o Espírito, ou seja, o Espírito vê
a coisa que deseja porque vai procurá-la. Não deveis esquecer que, durante
o sono, a alma está constantemente sob influência da matéria, às
vezes mais, às vezes menos, e, conseqüentemente, nunca se liberta completamente
das idéias terrenas. Disso resulta que as preocupações enquanto
acordados podem dar àquilo que se vê a aparência do que se
deseja ou do que se teme. A isso verdadeiramente é o que se pode chamar
de efeito da imaginação. Quando se está fortemente preocupado com
uma idéia, liga-se a essa idéia tudo o que se vê.
406 Quando vemos em sonho pessoas vivas, que conhecemos
perfeitamente, praticarem atos de que absolutamente não cogitam,
não é efeito de pura imaginação?
– Em relação a praticar atos de que não cogitam, como dizeis, o que
sabeis disso? O Espírito dessa pessoa pode visitar o vosso, como o vosso
pode visitar o dela e nem sempre sabeis no que ele pensa. E então, freqüentemente,
atribuís às pessoas que conheceis, e de acordo com vossos
desejos, o que se passou ou se passa em outras existências.
407 O sono completo é necessário para a emancipação do Espírito?
– Não; o Espírito recobra sua liberdade quando os sentidos se entorpecem.
Ele se aproveita, para se emancipar, de todos os momentos de
repouso que o corpo lhe concede. Desde que haja debilidade das forças
vitais, o Espírito se desprende, e quanto mais fraco estiver o corpo, mais
livre ele estará.
* É assim que a sonolência, ou um simples entorpecimento dos sentidos,
apresenta muitas vezes as mesmas imagens do sono.
408 Parece-nos ouvir, algumas vezes em nós, palavras pronunciadas
distintamente e que não têm nenhuma relação com o que nos
preocupa; de onde vem isso?
– Sim, pode acontecer até mesmo ouvirdes frases inteiras, principalmente
quando os sentidos começam a se entorpecer. É algumas vezes
um eco fraco de um Espírito que deseja se comunicar.
409 Muitas vezes, num estado que ainda não é a sonolência,
quando temos os olhos fechados, vemos imagens distintas, figuras
das quais observamos os mais minuciosos detalhes; é um efeito de
visão ou de imaginação?
– O corpo, estando entorpecido, faz com que o Espírito procure libertar-
se de suas amarras. Ele se transporta e vê. Se o sono fosse completo,
seria um sonho.
410 Têm-se, algumas vezes durante o sono ou a sonolência, idéias
que parecem ser muito boas e, apesar dos esforços para se lembrar
delas, apagam-se da memória: de onde vêm essas idéias?
– São o resultado da liberdade do Espírito que se emancipa e desfruta
de maneira completa de todas as suas faculdades durante esse momento.
São freqüentemente também conselhos que outros Espíritos dão.
410 a Para que servem essas idéias e conselhos, já que se perdem
na lembrança e não se podem aproveitar?
– Essas idéias pertencem, algumas vezes, mais ao mundo dos Espíritos
do que ao corporal; mas, com mais freqüência, se o corpo esquece,
o Espírito lembra, e a idéia revive na ocasião oportuna como uma inspiração
de momento.
411 O Espírito encarnado, nos momentos em que está desligado
da matéria e age como Espírito, sabe a época de sua morte?
– Muitas vezes a pressente; pode, também, ter uma consciência muito
clara dela. É o que, acordado, lhe dá a intuição disso. Eis por que certas
pessoas, algumas vezes, prevêem sua morte com grande exatidão.
412 A atividade do Espírito durante o repouso ou o sono do corpo
pode fazer com que o corpo sinta cansaço?
– Sim, pode. O Espírito está preso ao corpo, assim como um balão
cativo a um poste. Da mesma forma que as agitações do balão abalam o
poste, a atividade do Espírito reage sobre o corpo e pode fazer com que
se sinta cansado.
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1 - Outra espécie de sonhos: ele se referia à mediunidade (N. E.).
2 - Joana D’Arc: heroína francesa. Comandou os exércitos da França à vitória sobre os ingleses,
orientada por seus sonhos e suas visões (N. E.).
3 - Jacó: patriarca hebreu do Antigo Testamento que viu em sonho uma escada que levava da
Terra ao céu (N. E.).

sexta-feira, 29 de julho de 2011

ESQUECIMENTO DO PASSADO


392 Por que o Espírito encarnado perde a lembrança de seu passado?
– O homem não pode nem deve saber tudo. Deus em Sua sabedoria
quer assim. Sem o véu que lhe encobre certas coisas, o homem ficaria
deslumbrado, como aquele que passa sem transição do escuro para a
luz.O esquecimento do passado o faz sentir-se mais senhor de si.
393 Como o homem pode ser responsável por atos e reparar
faltas das quais não tem consciência? Como pode aproveitar a experiência
adquirida em existências caídas no esquecimento? Poderia se
conceber que as adversidades da vida fossem para ele uma lição ao
se lembrar do que as originou; mas, a partir do momento que não se
lembra, cada existência é para ele como a primeira e está, assim,
sempre recomeçando. Como conciliar isso com a justiça de Deus?
– A cada nova existência o homem tem mais inteligência e pode melhor
distinguir o bem do mal. Onde estaria o mérito, ao se lembrar de todo
o passado? Quando o Espírito volta à sua vida primitiva (a vida espírita),
toda sua vida passada se desenrola diante dele; vê as faltas que cometeu
e que são a causa de seu sofrimento e o que poderia impedi-lo de cometê-
las. Compreende que a posição que lhe foi dada foi justa e procura
então uma nova existência em que poderia reparar aquela que acabou.
Escolhe provas parecidas com as que passou ou as lutas que acredita
serem úteis para o seu adiantamento, e pede a Espíritos Superiores para
ajudá-lo nessa nova tarefa que empreende, porque sabe que o Espírito
que lhe será dado por guia nessa nova existência procurará fazê-lo reparar
suas faltas, dando-lhe uma espécie de intuição das que cometeu. Essa
mesma intuição é o pensamento, o desejo maldoso que freqüentemente
vos aparece e ao qual resistis instintivamente, atribuindo a maior parte das
vezes essa resistência aos princípios recebidos de vossos pais, enquanto
é a voz da consciência que vos fala. Essa voz é a lembrança do passado,
que vos adverte para não recair nas faltas que já cometestes. O Espírito,
ao entrar nessa nova existência, se suporta essas provas com coragem e
resiste, eleva-se e sobe na hierarquia dos Espíritos, quando volta para o
meio deles.
* Se não temos, durante a vida corporal, uma lembrança precisa do
que fomos e do que fizemos de bem ou mal em existências anteriores,
temos a intuição disso, e nossas tendências instintivas são uma lembrança
do nosso passado, às quais nossa consciência, que é o desejo
que concebemos de não mais cometer as mesmas faltas, nos adverte
para resistir.
394 Nos mundos mais avançados que o nosso, onde os habitantes
não são oprimidos por todas as nossas necessidades físicas e
enfermidades, os homens compreendem que são mais felizes do que
nós? A felicidade, em geral, é relativa. Nós a sentimos em comparação
a um estado menos feliz. Como, definitivamente, alguns desses
mundos, ainda que melhores que o nosso, não estão no estado de
perfeição, os homens que os habitam devem ter seus motivos de aborrecimentos.
Entre nós, o rico, que não tem angústias de necessidades
materiais como o pobre, tem, ainda assim, outras que tornam sua
vida amarga. Portanto, pergunto: em sua posição, os habitantes desses
mundos não se crêem tão infelizes quanto nós e não se lamentam
de sua sorte, já que não têm lembrança de uma existência inferior
para servir de comparação?
– Para isso, é preciso dar duas respostas diferentes. Há mundos,
entre esses que citastes, onde os habitantes têm uma lembrança muito
clara e precisa de suas existências passadas; estes, vós o compreendeis,
podem e sabem apreciar a felicidade que Deus lhes permite saborear. Há
outros onde os habitantes, como dissestes, colocados em melhores condições
do que vós, na Terra não têm grandes aborrecimentos nem
infelicidades. Esses não apreciam sua felicidade pelo fato de não se lembrarem
de um estado ainda mais infeliz. Entretanto, se não a apreciam
como homens, apreciam como Espíritos.
* Não há no esquecimento das existências passadas, principalmente
nas que foram dolorosas, qualquer coisa de providencial, em que se
revela a sabedoria divina? É nos mundos superiores, quando a lembrança
das existências infelizes não passa de um sonho ruim, que elas se
apresentam à memória. Nos mundos inferiores, as infelicidades atuais
não seriam agravadas pela lembrança de tudo que se suportou?
Concluamos: tudo que Deus fez é bem-feito e não nos cabe criticar
suas obras e dizer como deveria reger o universo.
A lembrança de nossas individualidades anteriores teria inconvenientes
muito graves; poderia, em certos casos, nos humilhar muito; em
outros, exaltar nosso orgulho e, por isso mesmo, dificultar nosso livrearbítrio.
Deus deu, para nos melhorarmos, exatamente o que é necessário
e basta: a voz da consciência e nossas tendências instintivas,
privando-nos do que poderia nos prejudicar. Acrescentemos ainda que,
se tivéssemos lembrança de nossos atos pessoais anteriores, teríamos
igualmente a dos outros, e esse conhecimento poderia ter os mais
desastrosos efeitos sobre as relações sociais. Não havendo motivos
de glória no passado, é bom que um véu seja lançado sobre ele. Isso
está perfeitamente de acordo com a Doutrina dos Espíritos sobre os
mundos superiores ao nosso. Nesses mundos, onde apenas reina o bem,
a lembrança do passado nada tem de doloroso; eis por que neles pode
se saber da existência anterior, como sabemos o que fizemos ontem.
Quanto à estada que fizeram nos mundos inferiores, não é mais, como
dissemos, do que um sonho ruim.
395 Podemos ter algumas revelações de nossas existências anteriores?
– Nem sempre. Muitos sabem, entretanto, o que foram e o que fizeram;
se fosse permitido dizer abertamente, fariam singulares revelações
sobre o passado.
396 Certas pessoas acreditam ter uma vaga lembrança de um
passado desconhecido que se apresenta a elas como a imagem passageira
de um sonho, que se procura, em vão, reter. Essa idéia é
apenas ilusão?
– Algumas vezes é real; mas muitas vezes é também ilusão contra a
qual é preciso ficar atento, porque pode ser o efeito de uma imaginação
superexcitada.
397 Nas existências de natureza mais elevadas que a nossa, a
lembrança das existências anteriores é mais precisa?
– Sim; à medida que o corpo se torna menos material, as lembranças
se revelam com mais exatidão. A lembrança do passado é mais
clara para os que habitam mundos de uma ordem superior.
398 Pelo estudo de suas tendências instintivas, que são uma
recordação do passado, o homem pode conhecer os erros que cometeu?
– Sem dúvida, até certo ponto; mas é preciso se dar conta da
melhora que pôde se operar no Espírito e as resoluções que ele tomou
na vida espiritual. A existência atual pode ser bem melhor que a precedente.
398 a Ela pode ser pior? Ou seja, o homem pode cometer numa
existência faltas que não cometeu em existências precedentes?
– Isso depende de seu adiantamento; se não resistir às provas, pode
ser levado a novas faltas, que são conseqüência da posição que escolheu.
Mas, em geral, essas faltas mostram antes um estado estacionário
do que retrógrado, porque o Espírito pode avançar ou estacionar, mas
nunca retroceder.
399 Os acontecimentos da vida corporal são, ao mesmo tempo,
uma expiação pelas faltas passadas e provas que visam ao futuro.
Pode-se dizer que da natureza dessas situações se possa deduzir o
gênero da existência anterior?
– Muito freqüentemente, uma vez que cada um é punido pelos erros
que cometeu; entretanto, não deve ser isso uma regra absoluta. As tendências
instintivas são a melhor indicação, visto que as provas pelas quais
o Espírito passa se referem tanto ao futuro quanto ao passado.
* Alcançado o fim marcado pela Providência para sua vida na espiritualidade,
o próprio Espírito escolhe as provas às quais quer se submeter
para acelerar seu adiantamento, ou seja, o gênero de existência
que acredita ser o mais apropriado para lhe fornecer esses meios e
cujas provas estão sempre em relação com as faltas que deve expiar.
Se triunfa, se eleva; se fracassa, deve recomeçar.
O Espírito sempre desfruta de seu livre-arbítrio. É em virtude dessa
liberdade que escolhe as provas da vida corporal. Uma vez encarnado,
delibera o que fará ou não e escolhe entre o bem e o mal. Negar ao homem
o livre-arbítrio seria reduzi-lo à condição de uma máquina.
Ao entrar na vida corporal, o Espírito perde, momentaneamente, a
lembrança de suas existências anteriores, como se um véu as ocultasse;
entretanto, às vezes, tem uma vaga consciência disso e elas podem
até mesmo lhe ser reveladas em algumas circunstâncias. Mas é apenas
pela vontade dos Espíritos Superiores que o fazem espontaneamente,
com um objetivo útil e nunca para satisfazer uma curiosidade vã.
As existências futuras não podem ser reveladas em nenhum caso,
porque dependem da maneira que se cumpra a existência atual e da
escolha que o Espírito virá a fazer.
O esquecimento das faltas cometidas não é um obstáculo ao melhoramento
do Espírito porque, se não tem uma lembrança precisa disso,
o conhecimento que teve delas quando estava na espiritualidade e o
compromisso que assumiu para repará-las o guiam pela intuição e lhe
dão o pensamento de resistir ao mal; esse pensamento é a voz da consciência,
sendo auxiliado pelos Espíritos Superiores que o assistem, se
escuta as boas inspirações que sugerem.
Se o homem não conhece os atos que cometeu em suas existências
anteriores, pode sempre saber de que faltas tornou-se culpado e
qual era seu caráter dominante. Basta estudar a si mesmo e julgar o que
foi não pelo que é, mas por suas tendências.
As contrariedades e os reveses da vida corporal são, ao mesmo tempo,
uma expiação pelas faltas passadas e provas para o futuro. Elas nos
purificam e elevam, se as suportamos com resignação e sem reclamar.
A natureza dessas alternâncias da vida e das provas que suportamos
pode também nos esclarecer sobre o que fomos e o que fizemos,
como aqui na Terra julgamos os atos de um culpado pelo castigo que a
lei lhe impõe.
Assim, o orgulhoso será castigado em seu orgulho pela humilhação
de uma existência subalterna; o mau rico e o avaro, pela miséria; aquele
que foi duro para com os outros sofrerá, por sua vez, durezas; o tirano,
escravidão; o mau filho, pela ingratidão de seus filhos; o preguiçoso, por
um trabalho forçado, etc.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

SIMPATIAS E ANTIPATIAS TERRENAS


386 Dois seres que se conhecem e se amam podem se encontrar
em outra existência corporal e se reconhecer?
– Reconhecer-se, não; mas podem sentir-se atraídos um pelo outro.
Freqüentemente, as ligações íntimas fundadas numa afeição sincera não
têm outra causa. Dois seres aproximam-se um do outro por conseqüências
casuais em aparência, mas que são de fato a atração de dois Espíritos
que se procuram na multidão.
386 a Não seria mais agradável para eles se reconhecerem?
– Nem sempre; a lembrança das existências passadas teria inconvenientes
maiores do que podeis imaginar. Após a morte, se reconhecerão,
saberão o tempo que passaram juntos. (Veja, nesta obra, a questão 392.)
387 A simpatia vem sempre de um conhecimento anterior?
– Não. Dois Espíritos que se compreendem procuram-se naturalmente,
sem que necessariamente se tenham conhecido em encarnações passadas.
388 Os encontros que ocorrem, algumas vezes, e que se atribuem
ao acaso não serão o efeito de uma certa relação de simpatia?
– Há entre os seres pensantes laços que ainda não conheceis. O
magnetismo é que dirige essa ciência, que compreendereis melhor mais
tarde.
389 De onde vem a repulsa instintiva que se tem por certas pessoas,
à primeira vista?
– Espíritos antipáticos que se adivinham e se reconhecem sem se
falar.
390 A antipatia instintiva é sempre um sinal de natureza má?
– Dois Espíritos não são necessariamente maus por não serem simpáticos
um para com o outro. A antipatia pode se originar da diferença no
modo de pensar. Mas, à medida que se elevam, as divergências se apagam
e a antipatia desaparece.
391 A antipatia entre duas pessoas se manifesta primeiro naquela
cujo Espírito é pior ou melhor?
– Tanto em um quanto no outro, mas as causas e os efeitos são diferentes.
Um Espírito mau tem antipatia contra qualquer pessoa que possa
julgá-lo e desmascará-lo. Ao ver uma pessoa pela primeira vez, sabe que vai
ser desaprovado; seu afastamento dessa pessoa se transforma em ódio,
em ciúme, e lhe inspira o desejo de fazer o mal. O Espírito bom sente repulsa
pelo mau porque sabe que não será compreendido e não partilharão dos
mesmos sentimentos, mas, seguro de sua superioridade, não tem contra o
outro ódio ou ciúme, contenta-se em evitá-lo e lastimá-lo.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

INFÂNCIA


379 O Espírito que anima o corpo de uma criança é tão desenvolvido
quanto o de um adulto?
– Pode até ser mais, se progrediu mais. São apenas órgãos imperfeitos
que o impedem de se manifestar. Ele age em razão do instrumento,
com que pode se manifestar.
380 Numa criança de tenra idade, o Espírito, exceto pelo obstáculo
que a imperfeição dos órgãos opõe à sua livre manifestação, pensa
como uma criança ou como um adulto?
– Quando é criança, é natural que os órgãos da inteligência, não estando
desenvolvidos, não possam lhe dar toda a intuição de um adulto;
ele tem, de fato, a inteligência bastante limitada, enquanto a idade faz
amadurecer sua razão. A perturbação que acompanha a encarnação não
cessa subitamente no momento do nascimento; ela somente se dissipa
gradualmente, com o desenvolvimento dos órgãos.
* Uma observação em apoio dessa resposta é que os sonhos da
criança não têm o caráter dos de um adulto; seu objeto é quase sempre
infantil, o que é um indício da natureza das preocupações do Espírito.
381 Na morte da criança, o Espírito retoma imediatamente seu
vigor anterior?
– Deve retomar, uma vez que está livre do corpo; entretanto, apenas
readquire sua lucidez quando a separação é completa, ou seja, quando
não existe mais nenhum laço entre o Espírito e o corpo.
382 O Espírito encarnado sofre, durante a infância, com as limitações
da imperfeição de seus órgãos?
– Não. Esse estado é uma necessidade, está na natureza e de acordo
com os planos da Providência: é um tempo de repouso para o Espírito.
383 Qual é, para o Espírito, a utilidade de passar pela infância?
– O Espírito, encarnando para se aperfeiçoar, é mais acessível, durante
esse tempo, às impressões que recebe e que podem ajudar o seu adiantamento,
para o qual devem contribuir aqueles que estão encarregados
de sua educação.
384 Por que a primeira manifestação de uma criança é de choro?
– Para excitar o interesse da mãe e provocar os cuidados que lhe são
necessários. Não compreendeis que, se houvesse apenas manifestações
de alegria, quando ainda não sabe falar, pouco se preocupariam com suas
necessidades? Admirai em tudo a sabedoria da Providência.
385 De onde vem a mudança que se opera no caráter em uma
determinada idade e particularmente ao sair da adolescência? É o
Espírito que se modifica?
– É o Espírito que retoma sua natureza e se mostra como era. Vós não
conheceis o segredo que escondem as crianças em sua inocência, não
sabeis o que são, o que foram, o que serão e, entretanto, as amais, lhes
quereis bem, como se fossem uma parte de vós mesmos, a tal ponto que
o amor de uma mãe por seus filhos é considerado o maior amor que um
ser possa ter por outro. De onde vem essa doce afeição, essa terna benevolência
que até mesmo estranhos sentem por uma criança? Vós sabeis?
Não; é isso que vou explicar.
As crianças são os seres que Deus envia em novas existências e,
para não lhes impor uma severidade muito grande, lhes dá todo o toque
de inocência. Mesmo para uma criança de natureza má suas faltas são
cobertas com a não-consciência de seus atos. Essa inocência não é uma
superioridade real sobre o que eram antes; não, é a imagem do que deveriam
ser e se não o são é somente sobre elas que recai a pena.
Mas, não é apenas por elas que Deus lhes dá esse aspecto, é também
e principalmente por seus pais, cujo amor é necessário para sua
fraqueza. Esse amor seria notoriamente enfraquecido frente a um caráter
impertinente e rude, ao passo que, ao acreditar que seus filhos são bons
e dóceis, lhes dão toda a afeição e os rodeiam com os mais atenciosos
cuidados. Mas quando os filhos não têm mais necessidade dessa proteção,
dessa assistência que lhes foi dada durante quinze ou vinte anos, seu
caráter real e individual reaparece em toda sua nudez: conservam-se bons,
se eram fundamentalmente bons; mas sempre sobressaem as características
que estavam ocultas na primeira infância.
Vedes que os caminhos de Deus são sempre os melhores e, quando
se tem o coração puro, a explicação é fácil de ser concebida.
De fato, imaginai que o Espírito das crianças pode vir de um mundo
em que adquiriu hábitos totalmente diferentes; como gostaríeis que vivesse
entre vós esse novo ser que vem com paixões completamente diferentes
das vossas, com inclinações, gostos inteiramente opostos aos vossos?
Como deveria se incorporar e alinhar-se entre vós de outra forma senão
por aquela que Deus quis, ou seja, pelo crivo da infância? Aí se confundem
todos os pensamentos, os caracteres e as variedades de seres gerados
por essa multidão de mundos nos quais crescem as criaturas. E vós mesmos,
ao desencarnar, vos encontrareis numa espécie de infância entre
novos irmãos; e nessa nova existência não-terrestre ignorareis os hábitos,
os costumes, as relações desse mundo novo para vós; manejareis com
dificuldade uma língua que não estais habituados a falar, língua mais viva
do que é hoje o vosso pensamento. (Veja, nesta obra, a questão 319.)
A infância tem ainda outra utilidade: os Espíritos apenas entram na
vida corporal para se aperfeiçoar e melhorar; a fraqueza da idade infantil os
torna flexíveis, acessíveis aos conselhos da experiência e dos que devem
fazê-los progredir. É então que podem reformar seu caráter e reprimir suas
más tendências; este é o dever que Deus confiou a seus pais, missão
sagrada pela qual terão de responder. Por isso a infância não é somente
útil, necessária, indispensável, mas é ainda a conseqüência natural das
Leis que Deus estabeleceu e que regem o universo.