sexta-feira, 29 de julho de 2011

ESQUECIMENTO DO PASSADO


392 Por que o Espírito encarnado perde a lembrança de seu passado?
– O homem não pode nem deve saber tudo. Deus em Sua sabedoria
quer assim. Sem o véu que lhe encobre certas coisas, o homem ficaria
deslumbrado, como aquele que passa sem transição do escuro para a
luz.O esquecimento do passado o faz sentir-se mais senhor de si.
393 Como o homem pode ser responsável por atos e reparar
faltas das quais não tem consciência? Como pode aproveitar a experiência
adquirida em existências caídas no esquecimento? Poderia se
conceber que as adversidades da vida fossem para ele uma lição ao
se lembrar do que as originou; mas, a partir do momento que não se
lembra, cada existência é para ele como a primeira e está, assim,
sempre recomeçando. Como conciliar isso com a justiça de Deus?
– A cada nova existência o homem tem mais inteligência e pode melhor
distinguir o bem do mal. Onde estaria o mérito, ao se lembrar de todo
o passado? Quando o Espírito volta à sua vida primitiva (a vida espírita),
toda sua vida passada se desenrola diante dele; vê as faltas que cometeu
e que são a causa de seu sofrimento e o que poderia impedi-lo de cometê-
las. Compreende que a posição que lhe foi dada foi justa e procura
então uma nova existência em que poderia reparar aquela que acabou.
Escolhe provas parecidas com as que passou ou as lutas que acredita
serem úteis para o seu adiantamento, e pede a Espíritos Superiores para
ajudá-lo nessa nova tarefa que empreende, porque sabe que o Espírito
que lhe será dado por guia nessa nova existência procurará fazê-lo reparar
suas faltas, dando-lhe uma espécie de intuição das que cometeu. Essa
mesma intuição é o pensamento, o desejo maldoso que freqüentemente
vos aparece e ao qual resistis instintivamente, atribuindo a maior parte das
vezes essa resistência aos princípios recebidos de vossos pais, enquanto
é a voz da consciência que vos fala. Essa voz é a lembrança do passado,
que vos adverte para não recair nas faltas que já cometestes. O Espírito,
ao entrar nessa nova existência, se suporta essas provas com coragem e
resiste, eleva-se e sobe na hierarquia dos Espíritos, quando volta para o
meio deles.
* Se não temos, durante a vida corporal, uma lembrança precisa do
que fomos e do que fizemos de bem ou mal em existências anteriores,
temos a intuição disso, e nossas tendências instintivas são uma lembrança
do nosso passado, às quais nossa consciência, que é o desejo
que concebemos de não mais cometer as mesmas faltas, nos adverte
para resistir.
394 Nos mundos mais avançados que o nosso, onde os habitantes
não são oprimidos por todas as nossas necessidades físicas e
enfermidades, os homens compreendem que são mais felizes do que
nós? A felicidade, em geral, é relativa. Nós a sentimos em comparação
a um estado menos feliz. Como, definitivamente, alguns desses
mundos, ainda que melhores que o nosso, não estão no estado de
perfeição, os homens que os habitam devem ter seus motivos de aborrecimentos.
Entre nós, o rico, que não tem angústias de necessidades
materiais como o pobre, tem, ainda assim, outras que tornam sua
vida amarga. Portanto, pergunto: em sua posição, os habitantes desses
mundos não se crêem tão infelizes quanto nós e não se lamentam
de sua sorte, já que não têm lembrança de uma existência inferior
para servir de comparação?
– Para isso, é preciso dar duas respostas diferentes. Há mundos,
entre esses que citastes, onde os habitantes têm uma lembrança muito
clara e precisa de suas existências passadas; estes, vós o compreendeis,
podem e sabem apreciar a felicidade que Deus lhes permite saborear. Há
outros onde os habitantes, como dissestes, colocados em melhores condições
do que vós, na Terra não têm grandes aborrecimentos nem
infelicidades. Esses não apreciam sua felicidade pelo fato de não se lembrarem
de um estado ainda mais infeliz. Entretanto, se não a apreciam
como homens, apreciam como Espíritos.
* Não há no esquecimento das existências passadas, principalmente
nas que foram dolorosas, qualquer coisa de providencial, em que se
revela a sabedoria divina? É nos mundos superiores, quando a lembrança
das existências infelizes não passa de um sonho ruim, que elas se
apresentam à memória. Nos mundos inferiores, as infelicidades atuais
não seriam agravadas pela lembrança de tudo que se suportou?
Concluamos: tudo que Deus fez é bem-feito e não nos cabe criticar
suas obras e dizer como deveria reger o universo.
A lembrança de nossas individualidades anteriores teria inconvenientes
muito graves; poderia, em certos casos, nos humilhar muito; em
outros, exaltar nosso orgulho e, por isso mesmo, dificultar nosso livrearbítrio.
Deus deu, para nos melhorarmos, exatamente o que é necessário
e basta: a voz da consciência e nossas tendências instintivas,
privando-nos do que poderia nos prejudicar. Acrescentemos ainda que,
se tivéssemos lembrança de nossos atos pessoais anteriores, teríamos
igualmente a dos outros, e esse conhecimento poderia ter os mais
desastrosos efeitos sobre as relações sociais. Não havendo motivos
de glória no passado, é bom que um véu seja lançado sobre ele. Isso
está perfeitamente de acordo com a Doutrina dos Espíritos sobre os
mundos superiores ao nosso. Nesses mundos, onde apenas reina o bem,
a lembrança do passado nada tem de doloroso; eis por que neles pode
se saber da existência anterior, como sabemos o que fizemos ontem.
Quanto à estada que fizeram nos mundos inferiores, não é mais, como
dissemos, do que um sonho ruim.
395 Podemos ter algumas revelações de nossas existências anteriores?
– Nem sempre. Muitos sabem, entretanto, o que foram e o que fizeram;
se fosse permitido dizer abertamente, fariam singulares revelações
sobre o passado.
396 Certas pessoas acreditam ter uma vaga lembrança de um
passado desconhecido que se apresenta a elas como a imagem passageira
de um sonho, que se procura, em vão, reter. Essa idéia é
apenas ilusão?
– Algumas vezes é real; mas muitas vezes é também ilusão contra a
qual é preciso ficar atento, porque pode ser o efeito de uma imaginação
superexcitada.
397 Nas existências de natureza mais elevadas que a nossa, a
lembrança das existências anteriores é mais precisa?
– Sim; à medida que o corpo se torna menos material, as lembranças
se revelam com mais exatidão. A lembrança do passado é mais
clara para os que habitam mundos de uma ordem superior.
398 Pelo estudo de suas tendências instintivas, que são uma
recordação do passado, o homem pode conhecer os erros que cometeu?
– Sem dúvida, até certo ponto; mas é preciso se dar conta da
melhora que pôde se operar no Espírito e as resoluções que ele tomou
na vida espiritual. A existência atual pode ser bem melhor que a precedente.
398 a Ela pode ser pior? Ou seja, o homem pode cometer numa
existência faltas que não cometeu em existências precedentes?
– Isso depende de seu adiantamento; se não resistir às provas, pode
ser levado a novas faltas, que são conseqüência da posição que escolheu.
Mas, em geral, essas faltas mostram antes um estado estacionário
do que retrógrado, porque o Espírito pode avançar ou estacionar, mas
nunca retroceder.
399 Os acontecimentos da vida corporal são, ao mesmo tempo,
uma expiação pelas faltas passadas e provas que visam ao futuro.
Pode-se dizer que da natureza dessas situações se possa deduzir o
gênero da existência anterior?
– Muito freqüentemente, uma vez que cada um é punido pelos erros
que cometeu; entretanto, não deve ser isso uma regra absoluta. As tendências
instintivas são a melhor indicação, visto que as provas pelas quais
o Espírito passa se referem tanto ao futuro quanto ao passado.
* Alcançado o fim marcado pela Providência para sua vida na espiritualidade,
o próprio Espírito escolhe as provas às quais quer se submeter
para acelerar seu adiantamento, ou seja, o gênero de existência
que acredita ser o mais apropriado para lhe fornecer esses meios e
cujas provas estão sempre em relação com as faltas que deve expiar.
Se triunfa, se eleva; se fracassa, deve recomeçar.
O Espírito sempre desfruta de seu livre-arbítrio. É em virtude dessa
liberdade que escolhe as provas da vida corporal. Uma vez encarnado,
delibera o que fará ou não e escolhe entre o bem e o mal. Negar ao homem
o livre-arbítrio seria reduzi-lo à condição de uma máquina.
Ao entrar na vida corporal, o Espírito perde, momentaneamente, a
lembrança de suas existências anteriores, como se um véu as ocultasse;
entretanto, às vezes, tem uma vaga consciência disso e elas podem
até mesmo lhe ser reveladas em algumas circunstâncias. Mas é apenas
pela vontade dos Espíritos Superiores que o fazem espontaneamente,
com um objetivo útil e nunca para satisfazer uma curiosidade vã.
As existências futuras não podem ser reveladas em nenhum caso,
porque dependem da maneira que se cumpra a existência atual e da
escolha que o Espírito virá a fazer.
O esquecimento das faltas cometidas não é um obstáculo ao melhoramento
do Espírito porque, se não tem uma lembrança precisa disso,
o conhecimento que teve delas quando estava na espiritualidade e o
compromisso que assumiu para repará-las o guiam pela intuição e lhe
dão o pensamento de resistir ao mal; esse pensamento é a voz da consciência,
sendo auxiliado pelos Espíritos Superiores que o assistem, se
escuta as boas inspirações que sugerem.
Se o homem não conhece os atos que cometeu em suas existências
anteriores, pode sempre saber de que faltas tornou-se culpado e
qual era seu caráter dominante. Basta estudar a si mesmo e julgar o que
foi não pelo que é, mas por suas tendências.
As contrariedades e os reveses da vida corporal são, ao mesmo tempo,
uma expiação pelas faltas passadas e provas para o futuro. Elas nos
purificam e elevam, se as suportamos com resignação e sem reclamar.
A natureza dessas alternâncias da vida e das provas que suportamos
pode também nos esclarecer sobre o que fomos e o que fizemos,
como aqui na Terra julgamos os atos de um culpado pelo castigo que a
lei lhe impõe.
Assim, o orgulhoso será castigado em seu orgulho pela humilhação
de uma existência subalterna; o mau rico e o avaro, pela miséria; aquele
que foi duro para com os outros sofrerá, por sua vez, durezas; o tirano,
escravidão; o mau filho, pela ingratidão de seus filhos; o preguiçoso, por
um trabalho forçado, etc.

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