domingo, 19 de junho de 2011

SEPARAÇÃO DA ALMA E DO CORPO


154 O corpo ou a alma sente alguma dor no momento da morte?
– Não; o corpo sofre muitas vezes mais durante a vida do que no
momento da morte: a alma não toma nenhuma parte nisso. Os sofrimentos
que às vezes ocorrem no momento da morte são uma alegria para o
Espírito, que vê chegar o fim de seu exílio.
* Na morte natural, a que acontece pelo esgotamento dos órgãos em
conseqüência da idade, o homem deixa a vida sem se dar conta disso:
é como um foco de luz que se apaga por falta de suprimento.
155 Como se opera a separação da alma e do corpo?
– Quando os laços que a retinham se rompem, ela se desprende.
155 a A separação se opera instantaneamente e por uma transição
brusca? Há uma linha de demarcação nitidamente traçada entre
a vida e a morte?
– Não; a alma se desprende gradualmente e não escapa como um
pássaro cativo subitamente libertado. Esses dois estados se tocam e se
confundem de maneira que o Espírito se desprende pouco a pouco dos
laços que o retinham no corpo físico: eles se desatam, não se quebram.
* Durante a vida, o Espírito se encontra preso ao corpo por seu
envoltório semimaterial ou perispírito. A morte é apenas a destruição do
corpo e não do perispírito, que se separa do corpo quando nele cessa a
vida orgânica. A observação demonstra que, no instante da morte, o
desprendimento do perispírito não se completa subitamente; opera-se
gradualmente e com uma lentidão muito variável, conforme os indivíduos.
Para uns é bastante rápido e pode-se dizer que o momento da morte é
ao mesmo instante o da libertação, quase imediata. Mas, para outros,
aqueles cuja vida foi extremamente material e sensual, o desprendimento
é mais demorado e dura algumas vezes dias, semanas e até mesmo
meses. Isso sem que haja no corpo a menor vitalidade nem a possibilidade
de um retorno à vida, mas uma simples afinidade entre corpo e
Espírito, afinidade que sempre se dá em razão da importância que, durante
a vida, o Espírito deu à matéria. É racional conceber, de fato, que
quanto mais o Espírito se identifica com a matéria, mais sofre ao se
separar dela. Por outro lado, a atividade intelectual e moral, a elevação
de pensamentos, operam um início do desprendimento mesmo durante
a vida do corpo, de tal forma que, quando a morte chega, o desprendimento
é quase instantâneo. Esse é o resultado de estudos feitos em
todos os indivíduos observados no momento da morte. Essas observações
ainda provaram que a afinidade que em alguns indivíduos persiste
entre a alma e o corpo é, algumas vezes, muito dolorosa, visto que o
Espírito pode sentir o horror da decomposição. Esse caso é excepcional
e particular para certos gêneros de vida e certos gêneros de morte;
verifica-se entre alguns suicidas.
156 A separação definitiva da alma do corpo pode ocorrer antes
da completa cessação da vida orgânica?
– Na agonia, a alma, algumas vezes, já deixou o corpo. Nada mais resta
nele do que a vida orgânica. O homem não tem mais consciência de si
mesmo e, entretanto, ainda há nele um sopro de vida orgânica. O corpo é
uma máquina que o coração faz mover. Existe, enquanto o coração faz circular
o sangue em suas veias, e não tem necessidade da alma para isso.
157 No momento da morte, a alma tem, às vezes, um desejo ou
um êxtase que lhe faz entrever o mundo em que vai entrar?
– Muitas vezes a alma sente desfazerem-se os laços que a
prendem ao corpo, então, faz todos os seus esforços para rompê-los completamente.
Já em parte desprendida da matéria, vê o futuro desdobrar-se
à sua frente e desfruta, por antecipação, do estado de Espírito.
158 O exemplo da lagarta, que inicialmente rasteja na terra, depois
se fecha na sua crisálida (1) numa morte aparente para renascer
em uma existência brilhante, pode nos dar uma idéia da vida terrestre,
da vida espiritual e, enfim, de nossa nova existência?
– Uma idéia imperfeita, mas a imagem é boa. Não deverá, entretanto,
ser tomada ao pé da letra, como muitas vezes fazeis.
159 Que sensação experimenta a alma no momento em que reconhece
estar no mundo dos Espíritos?
– Isso depende. Se fizestes o mal com o desejo de fazê-lo, vos envergonhareis
de tê-lo feito, num primeiro momento. Para o justo, é bem
diferente: é como o alívio de um grande peso, porque não teme nenhum
olhar indagador.
160 O Espírito encontra imediatamente aqueles que conheceu
na Terra e que desencarnaram antes dele?
– Sim, de acordo com a afeição que havia entre eles, muitas vezes
vêm recebê-lo na volta ao mundo dos Espíritos e o ajudam a se desprender
das faixas da matéria. Assim como reencontra também muitos que
havia perdido de vista durante sua permanência na Terra. Vê os que estão
na erraticidade (2), como também vai visitar os que estão encarnados.
161 Na morte violenta e acidental, quando os órgãos ainda não
estão enfraquecidos pela idade ou por doenças, a separação da alma
e o término da vida ocorrem simultaneamente?
– Geralmente é simultâneo, mas, em todos os casos, o momento
dessa separação é muito curto.
162 No caso de decapitação, por exemplo, o homem conserva
por alguns instantes a consciência de si mesmo?
– Muitas vezes a conserva durante alguns minutos, até que a vida
orgânica tenha-se extinguido completamente. Mas às vezes ocorre que a
apreensão da morte pode fazer com que perca a consciência mesmo
antes do instante do suplício.
* Trata-se aqui da consciência que o supliciado pode ter de si mesmo,
como homem e por intermédio dos órgãos, e não como Espírito. Se
não perdeu a consciência antes do suplício pode, ainda, conservá-la
por alguns instantes que são de uma duração muito curta e cessa necessariamente
com a vida orgânica do cérebro, o que não implica que o
perispírito esteja completamente desligado do corpo. Pelo contrário: em
todos os casos de morte violenta, quando não acontece pela extinção
natural das forças vitais, os laços que unem o corpo ao perispírito são
muito fortes, e o desprendimento completo demora mais.

1 - Crisálida: estado intermediário entre lagarta e borboleta. No contexto, significa a transformação,
o vir a ser (N. E.).
2 - Veja a questão 223 e seguintes. (N. E.).

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