segunda-feira, 20 de junho de 2011

PERTURBAÇÃO ESPIRITUAL


163 A alma, ao deixar o corpo, tem imediatamente consciência
de si mesma?
– Consciência imediata não. Ela passa algum tempo como num estado
de perturbação.
164 Todos os Espíritos experimentam, no mesmo grau e com a
mesma duração, a perturbação que se segue à separação da alma e
do corpo?
– Não, isso depende de sua elevação. Aquele que já está depurado
reconhece a sua nova situação quase imediatamente, porque já se libertou
da matéria durante a vida do corpo, enquanto o homem carnal, aquele
cuja consciência não é pura, conserva durante muito mais tempo as sensações
da matéria.
165 O conhecimento do Espiritismo tem alguma influência sobre
a duração, mais ou menos longa, dessa perturbação?
– Uma influência muito grande, uma vez que o Espírito já compreendia
antecipadamente sua situação. Mas a prática do bem e a consciência
pura exercem maior influência.
* No momento da morte, tudo é inicialmente confuso; a alma necessita
de algum tempo para se reconhecer. Ela fica atordoada, semelhante
à situação de uma pessoa que desperta de um profundo sono e procura
se dar conta da situação. A lucidez das idéias e a memória do passado
voltam à medida que se apaga a influência da matéria da qual acaba de
se libertar e à medida que se vai dissipando uma espécie de névoa que
obscurece seus pensamentos.
O tempo da perturbação que se segue à morte do corpo é bastante
variável. Pode ser de algumas horas, de muitos meses ou até mesmo de
muitos anos. É menos longa para aqueles que se identificaram já na vida
terrena com seu estado futuro, porque compreendem imediatamente
sua posição.
Essa perturbação apresenta circunstâncias particulares de acordo
com o caráter dos indivíduos e, principalmente, com o gênero de morte.
Nas mortes violentas, por suicídio, suplício, acidente, apoplexia3, ferimentos,
etc., o Espírito fica surpreso, espantado e não acredita estar
morto. Sustenta essa idéia com insistência e teimosia. Entretanto, vê
seu corpo, sabe que é o seu e não compreende que esteja separado
dele. Procura aproximar-se de pessoas que estima, fala com elas e não
compreende por que não o escutam. Essa ilusão dura até o completo
desprendimento do perispírito. Só então o Espírito reconhece o estado
em que se encontra e compreende que não faz mais parte do mundo
dos vivos. Esse fenômeno se explica facilmente. Surpreendido pela morte,
o Espírito fica atordoado com a brusca mudança que se operou nele. A
morte é, para ele, sinônimo de destruição, de aniquilamento. Mas, como
ainda pensa, vê, escuta, não se considera morto. O que aumenta ainda
mais sua ilusão é o fato de se ver num corpo semelhante ao anterior,
cuja natureza etérea não teve ainda tempo de estudar. Acredita que seja
sólido e compacto como o primeiro; e quando percebe esse detalhe, se
espanta por não poder apalpá-lo. Esse fenômeno é semelhante ao que
acontece com os sonâmbulos inexperientes que não acreditam dormir,
porque, para eles, o sono é sinônimo de suspensão das atividades, e,
como podem pensar livremente e ver, julgam não estar dormindo. Alguns
Espíritos apresentam essa particularidade, embora a morte não tenha acontecido
inesperadamente. Porém, é sempre mais generalizada naqueles
que, apesar de estar doentes, não pensavam em morrer. Vê-se, então, o
singular espetáculo de um Espírito assistir ao seu enterro como sendo
o de um estranho e falando sobre o assunto como se não lhe dissesse
respeito, até o momento em que compreende a verdade.
A perturbação que se segue à morte nada tem de pesaroso para o
homem de bem! É calma e muito semelhante à de um despertar tranqüilo.
Para aquele cuja consciência não é pura, a perturbação é cheia de
ansiedade e angústias que aumentam à medida que reconhece a situação
em que se encontra.
Nos casos de morte coletiva, tem-se observado que os que perecem
ao mesmo tempo nem sempre se revêem imediatamente. Na perturbação
que se segue à morte, cada um vai para seu lado, ou apenas
se preocupa com aqueles que lhe interessam.


3 - Apoplexia: lesão cerebral aguda; derrame cerebral (N. E.).

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