quarta-feira, 22 de junho de 2011

JUSTIÇA DA REENCARNAÇÃO

171 Em que se baseia o dogma (1) da reencarnação?
– Na justiça de Deus e na revelação, e repetimos incessantemente:
um bom pai deixa sempre para seus filhos uma porta aberta ao arrependimento.
A razão não vos diz que seria injusto privar, para sempre, da felicidade
eterna todos aqueles cujo aprimoramento não dependeu deles mesmos?
Não são todos os homens filhos de Deus? Só homens egoístas podem
pregar a injustiça, o ódio implacável e os castigos sem perdão.
* Todos os Espíritos estão destinados à perfeição, e Deus lhes fornece
os meios de alcançá-la pelas provações da vida corporal. Mas, na
Sua justiça, lhes permite cumprir, em novas existências, o que não puderam
fazer, ou acabar, numa primeira prova.
Não estaria de acordo nem com a igualdade, a justiça, nem com a
bondade de Deus condenar para sempre os que encontraram, no
próprio meio em que viveram, obstáculos ao seu melhoramento, independentemente
de sua vontade. Se a sorte do homem estivesse irrevogavelmente
fixada após a morte, Deus não teria pesado as ações de
todos numa única e mesma balança e não agiria com imparcialidade.
A doutrina da reencarnação, que consiste em admitir para o homem
diversas existências sucessivas, é a única que responde à idéia
que fazemos da justiça de Deus em relação aos homens que se acham
numa condição moral inferior; a única que pode nos explicar o futuro e
firmar nossas esperanças, porque nos oferece o meio de resgatar nossos
erros por novas provações. A razão nos demonstra essa doutrina e
os Espíritos a ensinam.
O homem que tem consciência de sua inferioridade encontra na
doutrina da reencarnação uma esperança consoladora. Se acredita na
justiça de Deus, não pode esperar achar-se, perante a eternidade, em
pé de igualdade com aqueles que agiram melhor do que ele. Contudo, o
pensamento de que essa inferioridade não o exclui para sempre do bem
supremo que conquistará mediante novos esforços o sustenta e lhe
reanima a coragem. Quem é que, no término de sua caminhada, não
lamenta ter adquirido muito tarde uma experiência que não pode mais
aproveitar? Porém, essa experiência tardia não está perdida; tirará proveito
dela numa nova vida.


1 - Dogma: essa palavra adquiriu de forma genérica o significado de um princípio, um ponto de
doutrina infalível e indiscutível. Porém, o seu verdadeiro sentido não é esse. A Doutrina Espírita
não é dogmática no sentido que se conhece em alguns credos religiosos que adotam o princípio
de filosofia em que a fé se sobrepõe à razão (fideísmo) para acomodar e justificar suas posições
de crença.
A palavra dogma está aqui com o seu significado, isto é, a união de um fundamento, um princípio
divino, com a experiência humana. Allan Kardec a emprega aqui e nas demais obras da Codificação
Espírita com esse sentido, e igualmente os Espíritos se referiram ao dogma da reencarnação com
essa significação, como se vê na resposta e à frente, na Parte Segunda, cap. 5, desta obra (N. E.).

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