sábado, 11 de junho de 2011

PROGRESSÃO DOS ESPÍRITOS


114 Os Espíritos são bons ou maus por natureza ou são eles
mesmos que se melhoram?
– São os próprios Espíritos que se melhoram, passando de uma ordem
inferior para uma ordem superior.
115 Dentre os Espíritos, alguns foram criados bons e outros maus?
– Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, ou seja, sem
conhecimento. Deu a cada um uma missão com o objetivo de esclarecêlos
e de fazê-los chegar, progressivamente, à perfeição pelo conhecimento
da verdade e para aproximá-los de Si. A felicidade eterna e pura é para
os que alcançam essa perfeição. Os Espíritos adquirem esses conhecimentos
ao passar pelas provas que a Lei Divina lhes impõe. Uns aceitam
essas provas com submissão e chegam mais depressa ao objetivo que
lhes é destinado. Outros somente as suportam com lamentação e por
causa dessa falta permanecem mais tempo afastados da perfeição e da
felicidade prometida.
115 a Assim sendo, os Espíritos seriam em sua origem semelhantes
às crianças, ignorantes e sem experiência, só adquirindo pouco a
pouco os conhecimentos que lhes faltam ao percorrer as diferentes fases
da vida?
– Sim, a comparação é boa. A criança rebelde permanece ignorante e
imperfeita, tem maior ou menor aproveitamento segundo sua docilidade.
Porém, a vida do homem tem um limite, um fim, enquanto a dos Espíritos
se estende ao infinito.
116 Há Espíritos que permanecerão perpetuamente nas classes
inferiores?
– Não, todos se tornarão perfeitos. Eles progridem, mas demoradamente.
Como já dissemos, um pai justo e misericordioso não pode banir
eternamente seus filhos. Pretenderíeis que Deus, tão grande, tão bom, tão
justo, fosse pior do que vós mesmos?
117 Depende dos Espíritos apressar seu progresso para a
perfeição?
– Certamente. Chegam mais ou menos rapidamente conforme seu
desejo e submissão à vontade de Deus. Uma criança dócil não se instrui
mais rapidamente do que uma criança rebelde?
118 Os Espíritos podem se degenerar?
– Não; à medida que avançam, compreendem o que os afasta da
perfeição. Quando o Espírito acaba uma prova, fica com o conhecimento
que adquiriu e não o esquece mais. Pode ficar estacionário, mas retroceder,
não retrocede.
119 Deus não poderia isentar os Espíritos das provas que devem
sofrer para atingir a primeira ordem?
– Se tivessem sido criados perfeitos, não teriam nenhum mérito para
desfrutar dos benefícios dessa perfeição. Onde estaria o mérito sem a
luta? Além do mais, a desigualdade entre eles é necessária para desenvolver
a personalidade, e a missão que realizam nessas diferentes ordens
está nos desígnios da Providência para a harmonia do universo.
* Tendo em vista que na vida social todos os homens podem chegar
às primeiras funções, igualmente poderíamos perguntar por que o soberano
de um país não promove cada um de seus soldados a general; por que
todos os empregados subalternos não são empregados superiores; por
que todos os estudantes não são mestres. Portanto, há essa diferença
entre a vida social e a vida espiritual: a primeira é limitada e nem sempre
permite alcançar todos os graus, enquanto a segunda é indefinida e deixa a
cada um a possibilidade de se elevar ao grau supremo.
120 Todos os Espíritos passam pelo mal para chegar ao bem?
– Pelo mal, não, mas sim pela fieira (5) da ignorância.
121 Por que alguns Espíritos seguiram o caminho do bem e outros
o do mal?
– Não têm eles o livre-arbítrio? Deus não criou Espíritos maus; criou-os
simples e ignorantes, ou seja, com as mesmas aptidões tanto para o bem
quanto para o mal. Os que são maus o são por vontade própria.
122 Como é que os Espíritos, em sua origem, quando ainda não
têm consciência de si mesmos, podem ter a liberdade de escolha entre
o bem e o mal? Há neles algum princípio, alguma tendência que os
leve para um ou outro caminho?
– O livre-arbítrio se desenvolve à medida que o Espírito adquire a consciência
de si mesmo. Não haveria mais liberdade se a escolha fosse
determinada ou imposta por uma causa independente da vontade do Espírito.
A causa não está nele, e sim fora, nas influências a que cede em
virtude de sua livre vontade. É essa a grande figura da queda do homem e
do pecado original: uns cederam, outros resistiram à tentação.
122 a De onde parte a influência sobre ele?
– Dos Espíritos imperfeitos que procuram apossar-se dele para dominá-
lo e ficam satisfeitos de o fazer fracassar. Foi isso que se quis simbolizar
na figura de Satanás.
122 b Essa influência se exerce sobre o Espírito somente em sua
origem?
– Essa influência o segue na sua vida de Espírito até que alcance um
domínio tão completo sobre si mesmo que os maus desistam de obsediá-lo (6).
123 Por que Deus permitiu que os Espíritos pudessem seguir o
caminho do mal?
– Como ousais pedir a Deus conta de seus atos? Pensais poder penetrar
seus desígnios? Entretanto, podeis pensar assim: a sabedoria de
Deus está na liberdade de escolha que dá a cada um, porque, assim,
cada um tem o mérito de suas obras.
124 Uma vez que há Espíritos que, desde o princípio, seguem o
caminho do bem absoluto e outros o do mal absoluto, deve haver, sem
dúvida, degraus entre esses dois extremos?
– Sim, certamente, e é aí que se encontra a grande maioria.
125 Os Espíritos que seguiram o caminho do mal poderão chegar
ao mesmo grau de superioridade que os outros?
– Sim, mas as eternidades serão para eles mais longas.
* Por esta expressão – as eternidades – deve-se entender a idéia
que os Espíritos inferiores têm da perpetuidade de seus sofrimentos,
porque, como não lhes é dado ver o fim do seu sofrimento, essa idéia
revive em todas as provas em que fracassam (7).
126 Os Espíritos que alcançaram o grau supremo de perfeição,
após terem passado pelo mal, têm menos mérito do que os outros,
aos olhos de Deus?
– Deus contempla a todos do mesmo modo e os ama com o mesmo
coração. Eles foram chamados maus por fracassarem; mas no início eram
só simples Espíritos.
127 Os Espíritos são criados iguais quanto às aptidões intelectuais?
– Eles são criados iguais, mas, não sabendo de onde vêm, é preciso
que o livre-arbítrio prossiga seu curso. Progridem mais ou menos rapidamente
em inteligência como em moralidade.
* Os Espíritos que seguem desde o princípio o caminho do bem nem
por isso são Espíritos perfeitos. Se não têm tendências más ainda
precisam adquirir a experiência e os conhecimentos necessários para
atingir a perfeição. Podemos compará-los a crianças que, qualquer que
seja a bondade de seus instintos naturais, têm necessidade de se
desenvolver, se esclarecer e não passam, sem transição, da infância à
idade adulta. Assim como há homens bons e outros maus desde
sua infância, há também Espíritos bons ou maus desde sua origem,
com a diferença fundamental de que a criança tem os instintos todos
formados, enquanto o Espírito, na sua formação, não é mau, nem bom;
tem todas as tendências e toma uma ou outra direção por efeito de seu
livre-arbítrio.

5 - Fieira: experiência pela qual alguém passou (N. E.).

6 - Obsessão: neste caso, influência de um Espírito desencarnado, malévolo, sobre um encarnado.
Há outras formas de obsessão – Veja O Livro dos Médiuns, Segunda Parte, cap. 23 -
Da Obsessão – (N. E.).
7 - Compare com a questão 101, referente à idéia de sofrimento e punição (N. E.).

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