segunda-feira, 13 de junho de 2011

ANJOS E DEMÔNIOS


128 Os seres a que chamamos anjos, arcanjos, serafins formam
uma categoria especial de natureza diferente dos outros Espíritos?
– Não. São os Espíritos puros. Estão no mais alto grau da escala e
reúnem todas as perfeições.
* A palavra anjo desperta, geralmente, a idéia de perfeição moral.
Entretanto, aplica-se, muitas vezes, a todos os seres bons e maus que
estão fora da humanidade. Diz-se: o bom e o mau anjo, o anjo de luz e o
anjo das trevas. Nesse caso, é sinônimo de Espírito ou de gênio. Nós a
tomamos aqui na sua significação de bom.
129 Os anjos percorreram todos os graus da escala evolutiva?
– Eles percorreram todos os graus, mas, como já dissemos: uns aceitaram
sua missão sem murmurar e chegaram mais rápido; outros levaram
um tempo mais ou menos longo para chegar à perfeição.
130 Se a opinião de que há seres criados perfeitos e superiores
a todas as outras criaturas é errônea, como se explica o fato de que
esteja na tradição de quase todos os povos?
– Pensai e considerai que o vosso mundo não existe de toda a eternidade
e que, muito tempo antes que ele existisse, havia Espíritos que já
tinham alcançado o grau supremo da evolução. Eis por que os homens
acreditaram que eles foram sempre assim (perfeitos).
131 Há demônios, no sentido que se dá a essa palavra?
– Se houvesse demônios, seriam obra de Deus. Deus seria justo e
bom por ter feito seres eternamente devotados ao mal e eternamente infelizes?
Se há demônios, é no vosso mundo inferior e em outros semelhantes
ao vosso. Demônios são esses homens hipócritas que fazem de um Deus
justo um Deus mau e vingativo e acreditam que Lhe agradam pelas abominações
que cometem em Seu nome.
* A palavra demônio nos dias atuais significa e nos dá idéia de mau
Espírito, porém a palavra grega daimôn, de onde se origina, significa
gênio, inteligência, e se emprega para designar seres incorpóreos, bons
ou maus, sem distinção.
Os demônios, conforme o significado comum da palavra, supõem
seres malvados por natureza, na sua essência. Seriam, como todas as
coisas, criação de Deus. Assim sendo, Deus, soberanamente justo e
bom, não pode ter criado seres predispostos, por sua natureza, ao mal
e condenados por toda a eternidade. Se não fossem obra de Deus,
seriam, forçosamente, como ele, de toda a eternidade, ou então haveria
muitos poderes soberanos.
A primeira condição de toda doutrina é a de ser lógica. A doutrina
dos demônios, cuidadosa e severamente analisada, peca por essa base
essencial. Pode-se compreendê-la na crença dos povos atrasados que,
por não conhecerem os atributos de Deus, crêem em divindades maldosas
e em demônios. Mas, para todo aquele que faz da bondade de
Deus um atributo por excelência, é ilógico e contraditório supor que
Deus pudesse criar seres voltados ao mal e destinados a praticá-lo
perpetuamente, porque isso é negar Sua bondade. Os partidários do
demônio se apóiam nas palavras do Cristo. E com toda certeza não
contestaremos aqui a autoridade de Seu ensinamento, que gostaríamos
de ver mais no coração do que na boca dos homens. Mas os
partidários dessa idéia estarão certos do significado que o Cristo dava à
palavra demônio? Já não sabemos que a forma alegórica é a maneira
usual de Sua linguagem? Tudo que é dito no Evangelho deve ser tomado
ao pé da letra? Não precisamos de outra prova mais evidente além
desta passagem:
“Logo após esses dias de aflição, o Sol se escurecerá e a Lua não
mais iluminará, as estrelas cairão do céu e as forças do céu serão abaladas.
Eu vos digo em verdade que esta geração não passará sem que
todas essas coisas sejam cumpridas.”
Não vimos a forma do texto bíblico ser contestada pela ciência no
que se refere à Criação e ao movimento da Terra? Não se dará o mesmo
com certas figuras empregadas pelo Cristo, tendo que falar em conformidade
com os tempos e os lugares? O Cristo não poderia dizer, conscientemente,
uma falsidade; se, então, em suas palavras há coisas que
parecem chocar a razão, é porque não as compreendemos ou as interpretamos
mal.
Os homens fizeram com os demônios o que fizeram com os anjos.
Da mesma forma que acreditaram na existência de seres perfeitos desde
toda a eternidade, tomaram também por comparação os Espíritos
inferiores como seres perpetuamente maus. Pela palavra demônio devem-
se entender Espíritos impuros que, muitas vezes, não são nada melhores
do que o nome já diz, mas com a diferença de que seu estado é
apenas transitório. Esses são os Espíritos imperfeitos que se revoltam
contra as provas que sofrem e, por isso, as sofrem por um tempo mais
longo; porém, chegarão a se libertar e sair dessa situação quando tiverem
vontade. Podemos, portanto, compreender a palavra demônio com
essa restrição. Mas, como se entende agora, com um sentido peculiar e
muito próprio, ela induziria ao erro, fazendo acreditar na existência de
seres especialmente criados para o mal.
Com relação a Satanás, é evidentemente a personificação do mal
sob uma forma alegórica, porque não se poderia admitir um ser mau
lutando em igualdade de poder com a Divindade e cuja única preocupação
seria a de contrariar seus desígnios. Como o homem precisa de
figuras e imagens para impressionar sua imaginação, o próprio homem
pintou seres incorpóreos sob uma forma material, com os atributos que
lembram as qualidades e os defeitos humanos. É assim que os antigos,
querendo personificar o Tempo, pintaram-no na figura de um velho com
uma foice e uma ampulheta. A figura de um jovem para essa alegoria
seria um contra-senso. Ocorre o mesmo com as alegorias da fortuna,
da verdade, etc. Modernamente os anjos ou Espíritos puros são representados
numa figura radiosa, com asas brancas, símbolo da pureza;
Satanás com chifres, garras e os atributos da animalidade, emblema
das paixões inferiores. O povo, que toma as coisas ao pé da letra, viu
nesses emblemas individualidades reais, como antigamente viu Saturno
na alegoria do Tempo.

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