Se os fenômenos de que nos ocupamos ficassem restritos ao mo-
vimento dos objetos, estariam dentro, como dissemos, do domínio das
ciências físicas. Mas não foi isso que aconteceu: estavam destinados
a nos colocar no caminho de fatos de uma natureza estranha. Acredi-
tou-se descobrir, não sabemos por iniciativa de quem, que a impulsão
dada aos objetos não era somente produto de uma força mecânica
cega, mas que havia nesse movimento a intervenção de uma causa
inteligente. Esse caminho, uma vez aberto, revelou um campo total-
mente novo de observações: era o véu levantado de sobre muitos
mistérios. Há, de fato, um poder inteligente? Essa é a questão. Se
esse poder existe, qual é ele, qual é a sua natureza, sua origem? Ele
está acima da humanidade? Essas são as outras questões decor-
rentes da primeira.
As primeiras manifestações inteligentes aconteceram por meio de
mesas se levantando e batendo, com um dos pés, um número determi-
nado de pancadas e respondendo desse modo sim ou não, segundo fora
convencionado, a uma questão proposta. Até aí, não havia nada de con-
vincente para os céticos (12), porque se podia acreditar num efeito do aca-
so. Obtiveram-se, em seguida, respostas mais desenvolvidas por meio
das letras do alfabeto: o objeto móvel, batendo um número de vezes
correspondente ao número de ordem de cada letra, chegava a formular
palavras e frases respondendo às perguntas propostas. A precisão das
respostas e sua correlação com a pergunta causaram espanto. O ser
misterioso que assim respondia, quando interrogado sobre sua nature-
za, declarou que era um Espírito ou gênio, deu o seu nome e forneceu
diversas informações a seu respeito. Aqui há um fato muito importante
que convém ressaltar: ninguém havia imaginado os Espíritos como um
meio de explicar o fenômeno. Foi o próprio fenômeno que se revelou.
Muitas vezes, nas ciências exatas, formulam-se hipóteses para se ter
uma base de raciocínio, mas isso não ocorreu nesse caso.
Esse meio de comunicação era demorado e incômodo. O Espírito, e
isso ainda é uma circunstância digna de nota, indicou um outro processo.
Foi um desses seres espirituais que ensinou a prender um lápis a um
pequeno cesto ou a um outro objeto. Esse cesto, colocado sobre uma
folha de papel, foi posto em movimento pelo mesmo poder oculto que
fazia mover as mesas; mas, em vez de um simples movimento regular, o
lápis traçou, por si mesmo, letras formando palavras, frases e discursos
inteiros de muitas páginas, tratando das mais altas questões da filosofia,
da moral, da metafísica, da psicologia, etc., e isso com tanta rapidez
como se fosse escrito à mão.
Esse conselho foi dado simultaneamente nos Estados Unidos, na
França e em diversos países. Eis os termos em que foi dado em Paris, no
dia 10 de junho de 1853, a um dos mais fervorosos adeptos da Doutrina,
que desde 1849 se ocupava com a evocação dos Espíritos: “Vá pegar no
quarto ao lado o pequeno cesto; prenda-lhe um lápis, coloque-o sobre
um papel e ponha os dedos sobre a borda”. Alguns instantes depois, o
cesto se pôs em movimento, e o lápis escreveu esta frase muito clara-
mente: “O que eu vos digo aqui, eu vos proíbo expressamente de o dizer
a alguém. A próxima vez que eu escrever, escreverei melhor”.
O objeto ao qual se adaptava o lápis era apenas um instrumento,
sua natureza e forma não tinham importância. Procurou-se sua dispo-
sição mais cômoda, por isso muitas pessoas fazem uso de uma peque-
na prancheta.
O cesto ou a prancheta apenas podem ser colocados em movimen-
to sob a influência de algumas pessoas dotadas, para esse fim, de um
poder especial e que são designadas como médiuns, isto é, intermediá-
rios entre os Espíritos e os homens. As condições de que se origina esse
poder especial têm causas ao mesmo tempo físicas e morais ainda des-
conhecidas, visto que se encontram médiuns de todas as idades, de
ambos os sexos e em todos os graus de desenvolvimento intelectual.
Essa faculdade13, esse dom, se desenvolve pelo exercício.
12 - Cético: que duvida de tudo, descrente (N. E.).
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