segunda-feira, 9 de maio de 2011

12. A IDENTIDADE DOS ESPÍRITOS


Um fato que a observação demonstrou e foi confirmado pelos pró-
prios Espíritos é que os Espíritos inferiores apresentam-se, muitas vezes,
com nomes conhecidos e respeitados. Quem pode nos assegurar que
aqueles que dizem ter sido, por exemplo, Sócrates, Júlio César, Carlos
Magno, Fénelon, Napoleão, Washington, etc. tenham realmente anima-
do esses personagens? Essa dúvida existe entre alguns adeptos fervo-
rosos da Doutrina Espírita; admitem a intervenção e a manifestação dos
Espíritos, mas se perguntam como comprovar sua identidade. Essa com-
provação é, de fato, muito difícil de estabelecer, já que não pode ser
apurada de uma maneira tão prática e simples como por meio de um
documento de identidade. Pode, entretanto, ser feita por alguns indícios.
Quando o Espírito de alguém que conhecemos pessoalmente se
manifesta, seja de um parente ou de um amigo, por exemplo, especial-
mente se morreu há pouco tempo, ocorre, em geral, que sua linguagem
está em perfeita relação com o seu caráter; isso já é um indício de iden-
tidade. Mas não há mais dúvida quando esse Espírito fala de coisas
particulares, lembra de fatos de família apenas conhecidos pelo interlo-
cutor. Um filho não se equivocaria certamente com a linguagem de seu
pai ou de sua mãe, nem os pais com a de seu filho. Algumas vezes,
nessas evocações, acontecem coisas surpreendentes, de forma a con-
vencer o mais incrédulo. O cético mais endurecido fica, então, maravilha-
do com as revelações inesperadas que lhe são feitas.
Uma outra circunstância muito característica vem fundamentar a iden-
tidade do Espírito. Dissemos que a letra do médium muda geralmente
com o Espírito evocado, e que essa escrita se reproduz exatamente igual
a cada vez que o mesmo Espírito se apresenta. Constatou-se, muitas
vezes, que para as pessoas mortas há pouco tempo, essa escrita tem
uma semelhança marcante com a da pessoa quando viva; têm-se visto
assinaturas de uma exatidão perfeita. Estamos longe de dar esse fato,
embora observado, como regra e, principalmente, como uma regra cons-
tante; nós o mencionamos como algo digno de nota.
Somente os Espíritos que atingiram um certo grau de purificação
estão desligados de toda influência corporal. Porém, quando não estão
completamente desmaterializados (é essa a expressão da qual se ser-
vem), conservam a maior parte das idéias, das tendências e até mesmo
das manias que tinham na Terra, o que demonstra o meio de os reconhe-
cermos; como também numa grande quantidade de fatos e detalhes, que
somente uma observação atenta e firme pode revelar. Vêem-se escrito-
res discutir suas próprias obras ou suas doutrinas, aprovar ou condenar
certas partes; outros Espíritos a lembrar fatos ignorados ou pouco co-
nhecidos de sua vida ou de sua morte; enfim, detalhes que são pelo
menos provas morais de identidade, as únicas a que se pode recorrer
quando se trata de coisas abstratas, isto é, que estão fora da realidade.
Se, portanto, a identidade do Espírito evocado pode ser, até certo
ponto, estabelecida em alguns casos, não há razão para que não o
seja em outros, e se, em relação às pessoas cuja morte ocorreu há
mais tempo, não há os mesmos meios de controle, tem-se sempre o da
linguagem e do caráter que revelam, porque, seguramente, o Espírito
de um homem de bem não falará como um perverso ou um devasso.
Quanto aos Espíritos que se apresentam exibindo nomes respeitá-
veis, logo se traem pela linguagem e pelos ensinamentos. Aquele que
dissesse ser Fénelon, por exemplo, e embora acidentalmente ofen-
desse o bom senso e a moral, mostraria, por esse simples fato, a frau-
de. Se, ao contrário, os pensamentos que exprimisse fossem sempre
puros, sem contradições e constantemente à altura do caráter de
Fénelon, não haveria motivos para duvidar de sua identidade. De qual-
quer maneira, seria preciso supor que um Espírito que apenas prega
o bem pode conscientemente empregar a mentira, e isso sem utilida-
de. A experiência nos ensina que os Espíritos da categoria, do mes-
mo caráter e animados pelos mesmos sentimentos se reúnem em
grupos ou em famílias; que o número de Espíritos é incalculável e
estamos longe de conhecê-los todos; e que até mesmo a maior parte
deles não tem nome para nós. Um Espírito da mesma categoria de
Fénelon pode vir em seu lugar, muitas vezes, enviado a seu pedido;
apresentar-se sob seu nome, pois lhe é idêntico, e substituí-lo, porque
precisamos de um nome para fixar nossas idéias. Mas o que importa,
em definitivo, que um Espírito seja realmente ou não o de Fénelon? A
partir do momento que somente diz coisas boas e que fala como o
próprio Fénelon falaria, é um bom Espírito; o nome com que se apre-
senta é indiferente e, muitas vezes, é apenas um meio de fixar nossas
idéias. O mesmo não seria admissível nas evocações dos familiares;
mas aí, como dissemos, a identidade pode ser estabelecida por pro-
vas de alguma forma evidentes.
Contudo, é certo que a substituição dos Espíritos pode ocasionar
uma série de enganos e resultar em erros e, muitas vezes, em misti-
ficações; essa é uma dificuldade do Espiritismo prático. Mas nunca dis-
semos que fosse algo fácil, nem que se pudesse aprendê-lo brincando,
como não se faz com qualquer outra ciência. Nunca será demais repetir
que ele pede um estudo assíduo e, freqüentemente, bastante prolonga-
do; não podendo provocar os fatos, é preciso esperar que se apresentem
por si mesmos e, freqüentemente, são conduzidos por circunstâncias com
as quais nem ao menos se sonha. Para o observador atento e paciente,
os fatos se produzem e então ele descobre milhares de detalhes caracte-
rísticos que representam fachos de luz. É assim também nas ciências
comuns, enquanto o homem superficial vê numa flor apenas uma forma
elegante, o sábio descobre nela tesouros para o pensamento.

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