sábado, 7 de maio de 2011

10. OBJEÇÕES


Dentre as objeções, há algumas sedutoras, pelo menos na apa-
rência, que podem induzir ao erro por serem tiradas da observação
dos fenômenos espíritas e serem feitas por pessoas respeitáveis.
Uma delas é que a linguagem de alguns Espíritos não parece
digna da elevação que se supõe em seres sobrenaturais. Mas, se consi-
derarmos o resumo da Doutrina que apresentamos, seguramente se
concluirá o que os próprios Espíritos nos ensinam: eles não são iguais
nem em conhecimento, nem em qualidades morais, e que não se deve
tomar ao pé da letra tudo o que dizem. Cabe às pessoas sensatas
distinguir o bom do mau. Seguramente, os que, em função disso, con-
cluem que apenas temos contato com seres maldosos, cuja única
ocupação é a de mistificar, não têm conhecimento das comunicações
que se recebem nas reuniões, onde apenas se manifestam Espíritos
Superiores; caso contrário, não pensariam assim. É lastimável que a
casualidade os tenha levado a ver apenas o lado mau do mundo espí-
rita, pois é difícil imaginar que por uma tendência de simpatia tenham
atraído para si Espíritos maus, mentirosos ou aqueles cuja linguagem
é revoltante de tão grosseira, em vez dos bons Espíritos. No máximo,
poderíamos concluir que a solidez dos princípios dos opositores da
Dourina Espírita não é bastante poderosa para afastar o mal e que,
encontrando um certo prazer em satisfazer sua curiosidade, os maus
Espíritos aproveitam a oportunidade para se introduzir entre eles, en-
quanto os bons se afastam.
Julgar a questão dos Espíritos por esses fatos seria tão pouco
lógico quanto julgar o caráter de um povo pelo que se diz e se faz
numa reunião de alguns amalucados ou de pessoas de má fama, e da
qual não participam nem os sábios, nem as pessoas sensatas. Essas
pessoas se encontram na situação de um estrangeiro que, chegando
a uma grande capital pelo mais pobre e feio subúrbio, julgasse todos
os habitantes pelos costumes e a linguagem desse bairro ínfimo. No
mundo dos Espíritos, há também uma sociedade de bons e de maus.
Portanto, que os opositores da Doutrina estudem bem o que se passa
entre os Espíritos Superiores e ficarão convencidos de que a cidade
celeste encerra outra coisa além da ralé do povo, a camada mais baixa
da sociedade. Mas, perguntam, os Espíritos Superiores vêm até nós?
A isso respondemos: Não fiqueis no subúrbio; vede, observai e julgai.
Os fatos estão aí para todos, a menos que sejam a elas que se apli-
quem essas palavras de Jesus: “Têm olhos e não vêem, ouvidos e
não ouvem ”.
Uma variante dessa opinião consiste em ver somente nas comuni-
cações espíritas, e em todos os fenômenos a intervenção de um poder
diabólico, novo Proteu que se revestiria de todas as formas para melhor
nos enganar. Não a consideramos à altura de um exame sério, por isso
não nos deteremos nela; encontra-se respondida por aquilo que dissemos;
acrescentaremos somente que, se fosse assim, seria preciso convir que o
diabo é algumas vezes muito sábio, razoável e, sobretudo, muito moral, ou,
então, que há também bons diabos.
Como acreditar, de fato, que Deus somente permita ao Espírito do
mal se manifestar para nos perder, sem nos dar, por contrapeso, os
conselhos dos bons Espíritos? Se Ele não o pode impedir, é impotente;
se o pode e não o faz, é incompatível com sua bondade; qualquer des-
tas suposições seria uma blasfêmia. Notai que admitir a comunicação
dos maus Espíritos é reconhecer em princípio as manifestações; por-
tanto, a partir do momento que elas existem, isso somente pode acon-
tecer com a permissão de Deus; como acreditar sem impiedade que
Ele permita o mal com a exclusão do bem? Semelhante doutrina seria
contrária às mais simples noções do bom senso e da religião.

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