terça-feira, 31 de maio de 2011

A VIDA E A MORTE


68 Qual é a causa da morte entre os seres orgânicos?
– O esgotamento dos órgãos.
68 a Podemos comparar a morte com o cessar do movimento
numa máquina desarranjada?
– Sim; se a máquina está mal montada, o movimento cessa; se o
corpo está doente, a vida se extingue.
69 Por que uma lesão do coração causa a morte mais do que em
qualquer outro órgão?
– O coração é a máquina da vida, mas não é o único órgão cuja lesão
ocasiona a morte. É somente uma das peças essenciais.
70 O que acontece com a matéria e o princípio vital dos seres
orgânicos quando eles morrem?
– A matéria sem atividade se decompõe e vai formar novos organismos.
O princípio vital retorna à sua origem, à sua fonte.
* Quando o ser orgânico morre, os elementos que o constituíam passam
a fazer parte de novas combinações e participam na formação de
novos seres, que por sua vez passam a tirar da fonte universal o princípio
da vida e da atividade, o absorvem e assimilam para novamente
devolvê-lo a essa fonte quando deixarem de existir.
Os órgãos estão, por assim dizer, impregnados de fluido vital que dá a
todas as partes do organismo uma atividade geradora da união entre elas,
e, no caso de lesões, restabelece as funções que estavam momentaneamente
danificadas. Mas quando os elementos essenciais ao funcionamento
dos órgãos são destruídos, ou muito profundamente desarranjados, o fluido
vital é incapaz de transmitir o movimento da vida, e o ser morre.
Mais ou menos por uma ação inevitável e forçosa os órgãos reagem
uns sobre os outros. É da harmonia de seu conjunto que resulta sua ação
mútua. Quando, por qualquer causa, essa harmonia é destruída, suas funções
param como o movimento de uma máquina cujas peças principais se
desarranjaram. Como um relógio que se desgasta com o tempo ou quebra
por acidente, e ao qual a força motriz é incapaz de pôr em movimento.
Temos uma imagem mais exata da vida e da morte num aparelho elétrico.
Esse aparelho, como todos os corpos da natureza, possui eletricidade
em estado latente. Os fenômenos elétricos somente se manifestam
quando o fluido é colocado em atividade por uma causa especial. Então,
poderíamos dizer que o aparelho está vivo. Parando a causa da atividade, o
fenômeno cessa: o aparelho volta ao estado de inércia. Os corpos orgânicos
seriam, assim, uma espécie de pilhas ou aparelhos elétricos nos quais
a atividade do fluido produz o fenômeno da vida. A paralisação dessa atividade
produz a morte.
A quantidade de fluido vital não é precisamente a mesma para todos
os seres orgânicos. Ela varia de acordo com as espécies e não é constante,
seja no mesmo indivíduo ou em indivíduos da mesma espécie. Há os que
são, por assim dizer, saturados desse fluido, enquanto outros possuem apenas
uma quantidade suficiente; daí, para alguns a vida mais ativa, mais
tenaz e, de certo modo, superabundante.
A quantidade de fluido vital se esgota. Pode tornar-se insuficiente para
a manutenção da vida se não for renovada pela absorção e assimilação das
substâncias que o contêm.
O fluido vital se transmite de um indivíduo para outro. Aquele que tem
mais pode dar para quem tem menos e, em alguns casos, restabelecer a
vida prestes a se extinguir.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

CAPÍTULO 4 - PRINCÍPIO VITAL


Seres orgânicos e inorgânicos

* Os seres orgânicos são os que têm em si uma fonte de atividade
íntima que lhes dá a vida. Eles nascem, crescem, se reproduzem por si
mesmos e morrem. São providos de órgãos especiais para a realização
dos diferentes atos da vida, apropriados às suas necessidades de conservação.
Os homens, os animais e as plantas são seres orgânicos.
Seres inorgânicos são todos os que não têm nem vitalidade, nem
movimentos próprios e são formados apenas pela agregação da matéria;
são os minerais, a água, o ar, etc.
60 É a mesma força que une os elementos da matéria nos corpos
orgânicos e inorgânicos?
– Sim, a lei de atração é a mesma para tudo.
61 Há uma diferença entre a matéria dos corpos orgânicos e a
dos inorgânicos?
– A matéria é sempre a mesma, mas nos corpos orgânicos está animalizada.
62 Qual é a causa da animalização da matéria?
– Sua união com o princípio vital.
63 O princípio vital é um agente particular ou é apenas uma propriedade
da matéria organizada? Numa palavra, é um efeito ou uma causa?
– Uma e outra. A vida é um efeito produzido pela ação de um agente
sobre a matéria. Esse agente, sem a matéria, não é vida, do mesmo modo
que a matéria não pode viver sem esse agente. O princípio vital dá a vida
a todos os seres que o absorvem e assimilam.
64 Vimos que o Espírito e a matéria são dois elementos constituintes
do universo. O princípio vital forma um terceiro?
– É, sem dúvida, um dos elementos necessários à constituição do universo,
mas ele mesmo tem sua fonte na matéria universal modificada. É um
elemento, como para vós o oxigênio e o hidrogênio que, entretanto, não são
elementos primitivos, embora tudo isso proceda de um mesmo princípio.
64 a Disso parece resultar que a vitalidade não tem seu princípio
num agente primitivo distinto, mas numa propriedade especial da matéria
universal, em razão de algumas modificações?
– É a conseqüência do que dissemos.

65 O princípio vital reside em algum dos corpos que conhecemos?
– Tem sua fonte no fluido universal. É o que chamais fluido magnético
ou fluido elétrico animalizado. Ele é o intermediário, o elo entre o Espírito e
a matéria.
66 O princípio vital é o mesmo para todos os seres orgânicos?
– Sim, modificado conforme as espécies. É o que lhes dá movimento
e atividade e os distingue da matéria inerte, uma vez que o movimento da
matéria não é a vida. A matéria recebe esse movimento, não o dá.
67 A vitalidade é um atributo permanente do agente vital ou apenas
se desenvolve pelo funcionamento dos órgãos?
– Apenas se desenvolve com o corpo. Não dissemos que esse agente
sem a matéria não é a vida? É preciso a união das duas coisas para
produzir a vida.
67 a Pode-se dizer que a vitalidade está em estado latente, quando
o agente vital não está unido ao corpo?
– Sim, é isso.
* O conjunto dos órgãos constitui uma espécie de mecanismo que
recebe um estímulo de atividade íntima ou princípio vital que existe neles.
O princípio vital é a força motriz dos corpos orgânicos. Ao mesmo
tempo que o agente vital estimula os órgãos, a ação deles mantém e
desenvolve a atividade do agente vital, quase do mesmo modo como o
atrito produz o calor.

domingo, 29 de maio de 2011

CONSIDERAÇÕES E CONCORDÂNCIAS BÍBLICAS A RESPEITO DA CRIAÇÃO


59 * Os povos formaram idéias muito divergentes a respeito da Criação,
conforme o grau de seus conhecimentos. A razão, apoiada na ciência,
reconheceu a impossibilidade e a contradição de algumas teorias. O ensinamento
dos Espíritos a esse respeito confirma a opinião desde há muito
tempo admitida pelos homens mais esclarecidos.
A objeção que se pode fazer a essa teoria é que está em contradição com
o texto dos livros bíblicos, mas um exame sério fará reconhecer que essa contradição
é mais aparente do que real e resulta da interpretação dada a certas
passagens dos textos que em geral têm um sentido alegórico, figurado.
A questão do primeiro homem, Adão, ter sido a única fonte que originou
a humanidade não é o único ponto sobre o qual as crenças religiosas
tiveram que se modificar. O movimento da Terra pareceu, em certa época,
de tal modo oposto ao texto bíblico que não houve forma de perseguição
da qual essa teoria não tenha sido o pretexto e, entretanto, a Terra gira,
apesar dos anátemas (5), e ninguém hoje poderia contestá-lo sem depreciar
a sua própria razão e submeter-se ao ridículo.
A Bíblia diz igualmente que o mundo foi criado em seis dias e fixa a
época da criação por volta de 4000 (6) anos antes da Era Cristã. Antes
disso, a Terra não existia, ela foi tirada do nada; o texto é formal, é claro.
Mas, eis que a ciência positiva, a ciência inabalável, vem provar o contrário.
A formação do globo está gravada em caracteres nítidos e indiscutíveis
no mundo fóssil  (7), e está provado que os seis dias da criação representam
períodos que podem constituir-se, cada um, de centenas de milhares de
anos. Isso não é um sistema, doutrina, ou opinião isolada; é um fato tão
constatado quanto o movimento da Terra, que a teologia (8) não pode recusarse
a admitir, prova evidente do erro em que se está sujeito a cair por tomar
ao pé da letra as expressões de uma linguagem freqüentemente figurada.
Devemos por isso concluir que a Bíblia está errada? Não. Mas podemos
concluir que os homens, em muitos pontos, se enganaram ao interpretá-la.
A ciência, ao escavar os arquivos da Terra, descobriu a ordem em
que os diferentes seres vivos apareceram na sua superfície, e essa ordem
está de acordo com a que é indicada na Gênese (9), com a diferença de que
toda a Criação, em vez de ter saído miraculosamente das mãos de Deus
em algumas horas, conforme está escrito no Gênese, se realizou sempre
pela Sua vontade, mas de acordo com a lei das forças da natureza, em
alguns milhões de anos. Deus é por isso menor e menos poderoso? Sua
obra é menos sublime por não ter o prestígio da instantaneidade? Evidente
que não. Seria preciso fazer da Divindade uma idéia bem mesquinha para
não reconhecer Seu grande poder nas leis eternas que estabeleceu para
reger os mundos. A ciência, longe de diminuir a obra divina, mostra-a sob
um aspecto mais grandioso e mais em conformidade com as noções que
temos do poder e da majestade de Deus, em razão de ter se realizado
sem anular as leis da natureza.
A ciência, neste ponto concordante com Moisés, coloca o homem em
último lugar na ordem da criação dos seres vivos; mas, enquanto Moisés,
no Gênese, põe o dilúvio universal no ano de 1654 após a Criação, a Geologia
nos mostra o grande cataclismo (10) anterior ao aparecimento do homem na
Terra. Até hoje não se encontrou nas camadas primitivas do globo nenhum
indício nem da presença do homem nem de animais da mesma categoria
do ponto de vista físico. Mas nada prova que isso seja impossível. Muitas
descobertas já lançaram dúvidas a esse respeito. Pode-se, portanto, de
um momento para outro, adquirir a certeza material dessa anterioridade da
raça humana, e então se reconhecerá que, sobre esse ponto, como em
outros, o texto bíblico é um símbolo, uma representação. A questão é
saber se o cataclismo geológico é o mesmo que atingiu Noé. O certo é
que a duração necessária à formação das camadas fósseis não permite
confundi-los, e a partir do momento que se tiverem encontrado traços
da existência do homem antes da grande catástrofe, ficará provado ou
que Adão não foi o primeiro homem, ou que sua criação se perde na
noite dos tempos. Contra fatos não há argumentos possíveis e será
preciso aceitar esses fatos, como se aceitou o do movimento da Terra e
os seis períodos da Criação.
A existência do homem (11) antes do dilúvio geológico, na verdade, ainda
é hipotética (12), mas eis aqui um detalhe que revela que não é assim.
Ao admitir que o homem tenha aparecido pela primeira vez sobre a Terra
4000 anos antes de Cristo, e que, 1650 anos mais tarde, toda a raça
humana tenha sido destruída, com exceção de uma única família, resulta
que o povoamento da Terra ocorreu somente a partir de Noé, ou seja,
2350 anos antes de nossa era. Porém, quando os hebreus emigraram
para o Egito no décimo oitavo século, encontraram esse país muito
povoado e já muito avançado em civilização. A História prova que nessa
época também a Índia e outros países estavam igualmente florescentes,
sem mesmo se levar em conta a cronologia de alguns outros povos que
remonta a uma época ainda bem mais antiga. Teria sido preciso, portanto,
que do vigésimo quarto ao décimo oitavo século, ou seja, no espaço
de 600 anos, não somente os descendentes de um único homem
pudessem povoar todos os imensos países então conhecidos, supondo
que os outros não o fossem, mas também que, nesse curto espaço
de tempo, a espécie humana pudesse se elevar da ignorância absoluta
do estado primitivo ao mais alto grau do desenvolvimento intelectual, o
que é contrário a todas as leis antropológicas (13).
A diversidade das raças vem, ainda, em apoio a essa opinião. O
clima e os costumes, sem dúvida, produzem modificações no caráter
físico, mas sabe-se até onde pode chegar a influência dessas causas, e o
exame fisiológico (14) prova que há entre algumas raças diferenças mais
profundas do que o clima pode produzir na constituição física do homem.
O cruzamento das raças origina os tipos intermediários. Ele tende a apagar
os caracteres extremos, primitivos, mas não os produz; apenas cria
variedades. Portanto, em vista disso, para que houvesse cruzamento de
raças, seria preciso que houvesse raças distintas. Como explicar a existência
de raças tão distintas se lhes dermos uma origem comum e sobretudo
tão próxima? Como admitir que, em poucos séculos, alguns
descendentes de Noé fossem transformados a ponto de produzir, por
exemplo, a raça etíope? Uma transformação desse porte é tão pouco
admissível quanto a hipótese de terem uma mesma origem o lobo e o
cordeiro, o elefante e o pulgão, o pássaro e o peixe. Mais uma vez: nada
pode prevalecer contra a evidência dos fatos.
Tudo se explica, ao contrário, se admitirmos que a existência do homem
é anterior à época que lhe é vulgarmente assinalada; a diversidade
das origens; que Adão, que viveu há seis mil anos, tenha povoado uma
região ainda desabitada; que o dilúvio de Noé foi uma catástrofe parcial e
que foi considerada como um cataclismo geológico e, finalmente, atentando
para o fato da forma de linguagem alegórica própria do estilo oriental e
que se encontra nos livros sagrados de todos os povos. Por isso é prudente
não acusar apressadamente de falsas as doutrinas que podem cedo ou
tarde, como tantas outras, desmentir aqueles que as combatem. As idéias
religiosas, em vez de perder, se engrandecem ao marchar com a ciência.
Esse é o único meio de não mostrar ao ceticismo um lado vulnerável.


5 - Anátema: maldição, excomunhão, reprovação, expulsão da Igreja (N. E.).
6 - A criação em 4000 anos: a ciência comprova que a idade da Terra é de aproximadamente 4,6 bilhões de anos (N. E.).
7 - Fóssil: resto petrificado ou endurecido de seres vivos que habitaram a Terra, há milhares de anos, e que conservaram suas características mais importantes (N. E.).
8 - Teologia: estudo das questões referentes ao conhecimento da divindade e suas relações com os homens; estudo dos dogmas e dos textos sagrados (N. E.).
9 - Gênese: primeiro livro do Velho Testamento, escrito por Moisés, no qual se descreve a criação do mundo (N. E.).
10 - Cataclismo: transformação brusca da Terra, abrangendo grande área da crosta; dilúvio, inundação (N. E.).
11 - Pesquisas científicas recentes revelaram que o planeta Terra tem aproximadamente 4,6 bilhões
de anos; formas rudimentares de vida (algas e bactérias) datam de aproximadamente 4 bilhões de
anos; o Homem de Neandertal viveu entre 200 mil e 25 mil anos; e o Homem de Cro-Magnon
viveu entre 30 mil e 10 mil anos. – J. Birx – Prometheus Books, 1991, e Enciclopédia Lello – (N. E.).
12 - Hipotético: duvidoso, incerto, fundado em suposições (N. E.).
13 - Antropologia: ciência que tem como objetivo analisar o homem com base nas características
biológicas dos grupos em que se distribui (N. E.).
14 - Fisiologia: ciência que estuda as funções dos órgãos nos seres vivos, animais ou vegetais
(N. E.).

sábado, 28 de maio de 2011

PLURALIDADE DOS MUNDOS


55 Todos os globos que circulam no espaço são habitados?
– Sim, e o homem da Terra está longe de ser, como pensa, o primeiro
em inteligência, bondade e perfeição. Entretanto, há homens que se julgam
superiores a tudo e imaginam que somente este pequeno globo tem
o privilégio de ter seres racionais. Orgulho e vaidade! Acreditam que Deus
criou o universo só para eles.
* Deus povoou os mundos com seres vivos, todos convergindo para o
objetivo final da Providência. Acreditar que só existem seres vivos no planeta
que habitamos seria colocar em dúvida a sabedoria de Deus, que não faz
nada inútil. A cada um desses mundos Deus deve ter dado uma destinação
mais séria do que divertir as nossas vistas. Nada, aliás, nem pela posição,
nem pelo volume, nem pela constituição física da Terra, pode razoavelmente
fazer supor que seja a única a ter o privilégio de ser habitada, com exclusão
de tantos milhares de mundos semelhantes.
56 A constituição física dos diferentes globos é a mesma?
– Não. Não se assemelham em nada.
57 Como a constituição física dos mundos não é a mesma, podemos
concluir que os seres que os habitam têm corpos e uma organização
diferente?
– Sem dúvida, como entre vós os peixes são feitos para viver na água
e os pássaros, no ar.
58 Os mundos mais afastados do Sol são privados da luz e do
calor, já que o Sol apenas se mostra para eles com a aparência de
uma estrela?
– Acreditais então que não há outras fontes de luz e de calor além do
Sol, e não considerais o valor e a importância da eletricidade que, em
alguns mundos, desempenha um papel que vos é desconhecido e muito
mais importante do que na Terra? Aliás, já dissemos que os seres desses
mundos não são nem da mesma matéria nem têm os órgãos dispostos
como os vossos.
* As condições de existência dos seres que habitam os diferentes mundos
devem ser apropriadas ao meio em que vivem. Se nunca tivéssemos
visto peixes, não compreenderíamos que seres pudessem viver na água. É
assim em outros mundos, que contêm, sem dúvida, elementos que nos são
desconhecidos. Não vemos, na Terra, longas noites polares iluminadas pela
eletricidade das auroras boreais4? O que há de impossível em que, em
certos mundos, a eletricidade seja mais abundante do que na Terra e
tenha aplicações e funções, cujos efeitos não podemos compreender?
Esses mundos podem, portanto, conter em si mesmos as fontes de calor
e de luz necessárias aos seus habitantes.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

DIVERSIDADE DAS RAÇAS HUMANAS


52 De onde vêm as diferenças físicas e morais que distinguem as
variedades de raças humanas na Terra?
– Do clima, da vida e dos costumes. Aconteceria o mesmo com dois
filhos de uma mesma mãe que, se educados longe um do outro e de
maneira diferente, não se pareceriam em nada quanto ao moral.
53 O homem apareceu em muitos pontos do globo?
– Sim, e em diversas épocas. Esta é uma das causas da diversidade
das raças. Depois, os homens, ao se dispersarem sob diferentes climas e
ao se misturarem os de raças diferentes, formaram novos tipos.
53 a Essas diferenças constituem espécies distintas?
– Certamente que não, todas são da mesma família. Por acaso, diferentes
variedades de um mesmo fruto deixam de pertencer à mesma
espécie?
54 Se a espécie humana não procede de um só indivíduo, os
homens devem deixar por isso de se considerarem irmãos?
– Todos os homens são irmãos perante Deus, porque são animados
pelo Espírito e tendem para o mesmo objetivo. Por que razão deveis sempre
tomar as palavras ao pé da letra?

quinta-feira, 26 de maio de 2011

POVOAMENTO DA TERRA. ADÃO


50 A espécie humana começou por um único homem?
– Não; aquele a quem chamais Adão não foi nem o primeiro, nem o
único que povoou a Terra.
51 Podemos saber em que época viveu Adão?
– Mais ou menos na que assinalais: por volta de 4000 anos antes de
Cristo.
* O homem cuja tradição se conservou sob o nome de Adão foi um dos
que sobreviveram, numa região, após alguns dos grandes cataclismos que
abalaram a superfície do globo em diversas épocas e veio a originar uma
das raças que o povoam hoje. As leis da natureza se opõem à opinião de
que os progressos da humanidade, observados muito antes de Cristo, tenham
se realizado em alguns séculos, caso o homem tivesse aparecido na
Terra somente a partir da época assinalada para a existência de Adão. Para
muitos, Adão é considerado, e com muita razão, mais um mito, uma alegoria,
personificando os primeiros tempos do mundo.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

FORMAÇÃO DOS SERES VIVOS


43 Quando a Terra começou a ser povoada?
– No início tudo era o caos, os elementos estavam desordenados.
Pouco a pouco, cada coisa tomou seu lugar. Então apareceram os seres
vivos apropriados ao estado do globo.
44 De onde vieram os seres vivos da Terra?
– A Terra continha os germes que aguardavam o momento favorável
para se desenvolverem. Os princípios orgânicos se agregaram desde que
cessou a força que os mantinha separados, e eles formaram os germes
de todos os seres vivos. Aqueles germes ficaram em estado latente (1), de
inércia, como a crisálida e as sementes das plantas, até chegar o momento
propício para o aparecimento de cada espécie. Então os seres de cada
espécie se reuniram e se multiplicaram.
45 Onde estavam os elementos orgânicos antes da formação da
Terra?
– Eles se encontravam, por assim dizer, no estado de fluido no espaço,
no meio dos Espíritos, ou em outros planetas, à espera da criação da
Terra para começar uma nova existência em um novo globo (2).
* A química nos mostra as moléculas dos corpos inorgânicos se unindo
para formar cristais de uma regularidade constante, segundo cada espécie,
desde que se encontrem nas condições adequadas. A menor alteração dessas
condições basta para impedir a reunião dos elementos ou, pelo menos,
mudar a disposição regular que constitui o cristal. Por que não ocorreria o
mesmo com os elementos orgânicos? Conservamos durante anos sementes
de plantas e de animais que somente se desenvolvem a uma temperatura
certa e em ambiente propício; vimos grãos de trigo germinar depois de muitos
séculos (3). Há, portanto, nessas sementes, um princípio latente da vitalidade
que apenas espera uma circunstância favorável para se desenvolver. O
que se passa diariamente sob nossos olhos não pode também ter existido
desde a origem do globo? Essa formação dos seres vivos partindo do caos
pela força da própria natureza diminui em alguma coisa a grandeza de Deus?
Longe disso: responde melhor à idéia que fazemos de Seu poder se exercendo
sobre mundos infinitos pela ação de leis eternas. Esta teoria não resolve, é
verdade, a questão da origem dos elementos vitais; mas Deus tem seus
mistérios e colocou limites às nossas investigações.
46 Ainda há seres que nascem espontaneamente?
– Sim. Mas o germe primitivo já existia em estado latente. Todos os
dias vós mesmos sois testemunhas desse fenômeno. Não dormitam, em
estado latente, tanto no homem quanto no animal, bilhões de germes de
uma multidão de vermes aguardando o momento de despertar para iniciarem
a putrefação que vai provocar a decomposição cadavérica indispensável
à sua existência? Este é um pequeno mundo que dorme e se cria.
47 A espécie humana se encontrava entre os elementos orgânicos
contidos no globo terrestre?
– Sim, e veio a seu tempo. Foi o que levou a dizer que o homem foi
formado do limo da Terra.
48 Podemos conhecer a época do aparecimento do homem e de
outros seres vivos sobre a Terra?
– Não, todos os vossos cálculos são hipotéticos, suposições.
49 Se o germe da espécie humana se encontrava entre os elementos
orgânicos do globo, por que não se formam mais espontaneamente
os homens, como na sua origem?
– O princípio das coisas está nos segredos de Deus. Entretanto, podese
dizer que os homens, uma vez espalhados pela Terra, absorveram os
elementos necessários para a própria formação da espécie, para transmiti-
los de acordo com as leis da reprodução. Ocorreu o mesmo com as
diferentes espécies de seres vivos.


1 - Estado latente: neste caso, período entre um estímulo e a reação por ele provocada, em que há falta de atividade. Espécie de dormência dos elementos (N. E.).
2 - Essa afirmativa, no tempo de Kardec, deve ter causado espanto e estranheza. Atualmente há uma corrente científica que afirma isso categoricamente e aponta como indício o fato de que no fundo dos oceanos ainda se encontra uma placa de limo que teria contido o protoplasma e na qual se encontravam esses primeiros elementos orgânicos, que viriam a constituir a origem da vida de tudo o que existe no planeta (N. E.).
3 - Kardec se refere aos grãos de trigo encontrados nas Pirâmides do Egito, que depois de muitos séculos germinaram (N. E.).

terça-feira, 24 de maio de 2011

FORMAÇÃO DOS MUNDOS (Capítulo III)


* O universo abrange a infinidade dos mundos que vemos e aqueles
que não vemos, todos os seres animados e inanimados, todos os astros
que se movem no espaço e os fluidos que o preenchem.
37 O universo foi criado ou existe desde toda a eternidade, como
Deus?
– Sem dúvida, ele não se fez a si mesmo. Se existisse de toda a
eternidade, como Deus, não poderia ser obra de Deus.
* A razão nos diz que o universo não se fez por si só e que, não
podendo ser obra do acaso, deve ser obra de Deus.
38 Como Deus criou o universo?
– Para me servir de uma expressão usual: pela Sua vontade. Nada
revela melhor essa vontade Todo-poderosa do que estas belas palavras
da Gênese: “E Deus disse: ‘Que se faça a luz’. E a luz se fez.”
39 Poderemos conhecer o modo da formação dos mundos?
– Tudo o que se pode dizer e o que podeis compreender é que os
mundos se formam pela condensação da matéria espalhada no espaço.
40 Os cometas seriam, como se pensa atualmente, um começo
da condensação da matéria, mundos em processo de formação?
– Isso é exato, mas o absurdo é acreditar na influência deles. Quero
dizer, na influência que lhes é atribuída vulgarmente, porque todos os corpos
celestes influem em certos fenômenos físicos.
41 Um mundo completamente formado pode desaparecer e a matéria
que o compõe ser espalhada de novo no espaço?
– Sim, Deus renova os mundos como renova os seres vivos.
42 Podemos saber o tempo de duração da formação dos mundos,
da Terra, por exemplo?
– Não posso te dizer, somente o Criador sabe, e bem louco seria
quem pretendesse saber ou conhecer o número dos séculos dessa
formação.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

ESPAÇO UNIVERSAL


35 O espaço universal é infinito ou limitado?
– Infinito. Supondo que fosse limitado, devíeis perguntar: o que haverá
além de seus limites? Isso confunde a razão, bem o sei, e, entretanto, a
própria razão diz que não pode ser de outro modo. Essa é a idéia do
infinito em todas as coisas, e não é na vossa pequena esfera que podeis
compreendê-lo.
* Supondo-se um limite ao espaço, por mais distante que o pensa-
mento possa concebê-lo, a razão diz que além desse limite há alguma
coisa, e, assim, sucessivamente, até o infinito; porém, se essa alguma
coisa fosse o vazio absoluto, ainda seria espaço.
36 O vazio absoluto existe em alguma parte no espaço universal?
– Não, nada é vazio. O que imaginais como vazio é ocupado por uma
matéria que escapa aos vossos sentidos e aos vossos instrumentos.

domingo, 22 de maio de 2011

PROPRIEDADES DA MATÉRIA


29 A ponderabilidade (2) é um atributo essencial da matéria?
– Da matéria, assim como a entendeis, sim; mas não da matéria con-
siderada como fluido universal. A matéria etérea e sutil que forma esse
fluido é imponderável para vós, mas nem por isso deixa de ser o princípio
de vossa matéria pesada.
* A gravidade (3) é uma propriedade relativa. Fora das esferas de
atração dos mundos, não há peso, do mesmo modo que não há nem
acima, nem abaixo.
30 A matéria é formada de um único ou de vários elementos?
– De um único elemento primitivo. Os corpos que considerais
simples não são verdadeiros elementos, mas transformações da maté-
ria primitiva.
31 De onde vêm as diferentes propriedades da matéria?
– São modificações que as moléculas4 elementares sofrem por sua
união e em determinadas circunstâncias.
32 Diante disso, os sabores, os odores, as cores, o som, as qua-
lidades venenosas ou salutares dos corpos apenas seriam modifica-
ções de uma única e mesma substância primitiva?
– Sim, sem dúvida, e que apenas existem pela disposição dos órgãos
destinados a percebê-los.
* Esse princípio é demonstrado pelo fato de que nem todo mundo
percebe as qualidades dos corpos da mesma maneira: um acha uma
coisa agradável ao gosto, outro a acha ruim; uns vêem azul o que outros
vêem vermelho; o que é um veneno para uns é inofensivo ou salutar
para outros.
33 A mesma matéria elementar é suscetível de passar por todas
as modificações e adquirir todas as propriedades?
– Sim, e é o que se deve entender quando dizemos que tudo está em
tudo. (4a)
* O oxigênio, o hidrogênio, o azoto, o carbono e todos os corpos que
consideramos como simples são somente modificações de uma subs-
tância primitiva. Na impossibilidade em que nos encontramos até o pre-
sente de conhecer, a não ser pelo pensamento, essa matéria primitiva,
esses corpos são para nós verdadeiros elementos e podemos, sem maiores
conseqüências, considerá-los assim, até nova ordem.

33 a E essa teoria parece dar razão à opinião daqueles que só
admitem na matéria duas propriedades essenciais, a força e o movi-
mento, e pensam que todas as outras propriedades são apenas efei-
tos secundários, variando de acordo com a intensidade da força e a
direção do movimento?
– Essa opinião é exata. É preciso também acrescentar: conforme a
disposição das moléculas, como vês, por exemplo, num corpo opaco,
que pode tornar-se transparente, e vice-versa.
34 As moléculas têm uma forma determinada?
– Sem dúvida, as moléculas têm uma forma, que não é perceptível
para vós.
34 a Essa forma é constante ou variável?
– Constante para as moléculas elementares primitivas e variável para
as moléculas secundárias, que são somente aglomerações das primei-
ras; porque aquilo que chamais molécula ainda está longe da molécula
elementar.



2 - Ponderabilidade: que se pode medir, pesar, quantificar (N. E.).
3 - Gravidade: lei da Física, atração que os planetas e os corpos celestes exercem uns sobre os
outros (N. E.).
4 - Molécula: agrupamento de um ou mais átomos que forma uma substância; a menor quanti-
dade de matéria (N. E.).
4a - Esse princípio explica o fenômeno conhecido de todos os magnetizadores e que consiste em
dar, pela vontade, a uma substância qualquer, à água, por exemplo, propriedades muito diversas:
um gosto determinado e mesmo as qualidades ativas de outras substâncias. Uma vez que há
apenas um elemento primitivo e que as propriedades dos diferentes corpos são somente modifi-
cações desse elemento, resulta que a substância mais inofensiva tem o mesmo princípio que a
mais prejudicial. Assim, a água, que é formada de uma parte de oxigênio e de duas de hidrogênio,
torna-se corrosiva duplicando-se a proporção de oxigênio. Uma transformação semelhante pode
se produzir pela ação magnética dirigida pela vontade (N. K.).

sábado, 21 de maio de 2011

ESPÍRITO E MATÉRIA


21 A matéria existe desde o princípio, como Deus, ou foi criada
por Ele em determinado momento?
– Somente Deus o sabe. Entretanto, há uma coisa que a vossa razão
deve deduzir: é que Deus, modelo de amor e caridade, nunca esteve
inativo. Por mais remoto que possa vos parecer o início de sua ação, aca-
so o podereis imaginar por um segundo sequer na ociosidade?
22 Define-se, geralmente, a matéria como sendo o que tem ex-
tensão, o que pode causar impressão aos nossos sentidos, o que é
impenetrável. Essas definições são exatas?
– Do vosso ponto de vista são exatas, visto que somente falais do que
conheceis. Mas a matéria existe em estados que para vós são desconhe-
cidos. Pode ser, por exemplo, tão etérea e sutil que não cause nenhuma
impressão aos vossos sentidos; entretanto, é sempre matéria, embora
para vós não o seja.
22 a Que definição podeis dar da matéria?
– A matéria é o laço que prende o Espírito; é o instrumento de que ele
se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação.
* De acordo com essa idéia, pode-se dizer que a matéria é o agente,
o intermediário, com a ajuda do qual, e sobre o qual, atua o Espírito.
23 O que é o Espírito?
– Espírito é o princípio inteligente do universo (1).
23 a Qual é a natureza íntima do Espírito?
– Não é fácil explicar o Espírito com a vossa linguagem. Para vós, ele
não é nada, visto que o Espírito não é algo palpável, mas para nós é algu-
ma coisa. Sabei bem: o nada não é coisa nenhuma, o nada não existe.
24 Espírito é sinônimo de inteligência?
– A inteligência é um atributo essencial do Espírito, mas ambos se con-
fundem num princípio comum, de modo que, para vós, são a mesma coisa.
25 O Espírito é independente da matéria ou é apenas uma proprie-
dade dela, como as cores são propriedades da luz e o som uma pro-
priedade do ar?
– Ambos são distintos, mas é preciso a união do Espírito e da matéria
para que a inteligência se manifeste na matéria.
25 a Essa união é igualmente necessária para a manifestação do
Espírito? (Entendemos, aqui, por espírito o princípio inteligente, e não
as individualidades designadas sob esse nome).
– Ela é necessária para vós, porque não sois organizados para perce-
ber o Espírito sem a matéria; vossos sentidos não são feitos para isso.
26 Pode-se conceber o Espírito sem a matéria e a matéria sem o
Espírito?
– Pode-se, sem dúvida, pelo pensamento.
27 Haveria, assim, dois elementos gerais do universo: a matéria
e o Espírito?
– Sim, e acima de tudo Deus, o Criador, o Pai de todas as coisas. Deus,
Espírito e matéria são o princípio de tudo o que existe, a trindade universal.
Mas ao elemento material é preciso acrescentar o fluido universal, que faz o50
papel de intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita, muito
grosseira para que o Espírito possa ter uma ação sobre ela. Ainda que sob
certo ponto de vista se possa incluí-lo no elemento material, ele se distingue
por propriedades especiais. Se o fluido universal fosse matéria, não haveria
razão para que o Espírito não o fosse também. Ele está colocado entre o
Espírito e a matéria; é fluido, como a matéria é matéria; suscetível, por suas
inumeráveis combinações com ela e sob a ação do Espírito, de poder produzir
uma infinita variedade de coisas das quais conheceis apenas uma pequena
parte. Esse fluido universal, primitivo, ou elementar, sendo o agente que o Espí-
rito utiliza, é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de
dispersão e nunca adquiriria as propriedades que a força da gravidade lhe dá.
27 a Seria esse fluido o que designamos sob o nome de eletricidade?
– Dissemos que ele é suscetível de inumeráveis combinações; o que
chamais fluido elétrico, fluido magnético, são modificações do fluido uni-
versal, que é, propriamente falando, uma matéria mais perfeita, mais sutil e
que se pode considerar como independente.
28 Uma vez que o próprio Espírito é alguma coisa, não seria mais
exato e menos sujeito a confusões designar esses dois elementos
gerais pelas palavras: matéria inerte e matéria inteligente?
– As palavras pouco nos importam; cabe a vós formular vossa linguagem
de maneira a vos entenderdes. Vossas controvérsias surgem quase sempre
do que não compreendeis sobre as palavras que usais, porque vossa lingua-
gem é incompleta para as coisas que os vossos sentidos não percebem.
* Um fato notório domina todas as hipóteses: vemos matéria sem
inteligência e vemos um princípio inteligente independente da matéria. A
origem e a ligação dessas duas coisas nos são desconhecidas. Se elas
vêm ou não de uma fonte comum, se há pontos de contato entre elas, se a
inteligência tem sua existência própria ou se é uma propriedade, um efeito
ou mesmo, conforme a opinião de alguns, se é uma emanação da Divinda-
de, é o que ignoramos. Elas nos aparecem distintas, é por isso que nós as
admitimos como formando dois princípios que constituem o universo. Ve-
mos acima de tudo isso uma inteligência que domina todas as outras e as
governa, que se distingue por seus atributos essenciais. É a essa inteligên-
cia suprema que chamamos Deus.



1 - Compare essa resposta com a da questão 76. Aqui trata-se do Espírito, princípio inteligente,
e não a individualidade. Veja a questão 25-a (N. E.).


sexta-feira, 20 de maio de 2011

ELEMENTOS GERAIS DO UNIVERSO


CONHECIMENTO DO PRINCÍPIO DAS COISAS
17 É permitido ao homem conhecer o princípio das coisas?
– Não, Deus não permite que tudo seja revelado ao homem aqui na Terra.
18 O homem penetrará um dia no mistério das coisas que lhe são
ocultas?
– O véu se levanta para ele à medida que se depura; mas, para compreen-
der algumas coisas, precisa de faculdades, dons, que ainda não possui.
19 O homem não pode, pelas investigações das ciências, pene-
trar em alguns dos segredos da natureza?
– A ciência lhe foi dada para seu adiantamento em todas as coisas,
mas não pode ultrapassar os limites fixados por Deus.
* Quanto mais é permitido ao homem penetrar pelo conhecimento
nesses segredos, maior deve ser sua admiração pelo poder e sabedoria
do Criador; mas, seja pelo orgulho ou fraqueza, sua própria inteligência
o torna, muitas vezes, joguete da ilusão. Amontoa sistemas sobre siste-
mas e cada dia que passa lhe mostra quantos erros tomou por verda-
des e quantas verdades rejeitou como erros. São outras tantas decep-
ções para o seu orgulho.
20 Fora das investigações da ciência, é permitido ao homem re-
ceber comunicações de uma ordem mais elevada sobre o que escapa
ao alcance dos seus sentidos?
– Sim, se Deus julgar útil, pode revelar o que a ciência não consegue
apreender.
* É por essas comunicações que o homem obtém, dentro de cer-
tos limites, o conhecimento de seu passado e de sua destinação futura.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Espíritas: Chico Xavier no fantástico

Espíritas: Chico Xavier no fantástico

PANTEÍSMO


14 Deus é um ser distinto, ou seria, segundo a opinião de alguns,
resultante de todas as forças e de todas as inteligências do universo
reunidas?
– Se fosse assim, Deus não existiria, porque seria o efeito e não a causa;
Ele não pode ser ao mesmo tempo uma e outra coisa.
Deus existe, não podeis duvidar disso, é o essencial. Crede em mim, não
deveis ir além, não vos percais num labirinto de onde não podereis sair, isso
não vos tornaria melhores, mas talvez um pouco mais orgulhosos, porque
acreditaríeis saber e na realidade não saberíeis nada. Deixai de lado todos
esses sistemas; tendes muitas coisas que vos tocam mais diretamente, a
começar por vós mesmos. Estudai vossas próprias imperfeições a fim de vos
desembaraçar delas, isso vos será mais útil do que querer penetrar no que é
impenetrável.
15 O que pensar da opinião de que todos os corpos da natureza,
todos os seres, todos os globos do universo, seriam parte da Divinda-
de e constituiriam, pelo seu conjunto, a própria Divindade, ou seja, o
que pensar da doutrina panteísta?
– O homem, não podendo se fazer Deus, quer pelo menos ser uma
parte d'Ele.
16 Aqueles que acreditam nessa doutrina pretendem nela en-
contrar a demonstração de alguns atributos de Deus. Sendo os mun-
dos infinitos, Deus é, por isso mesmo, infinito; não havendo o vazio ou
o nada em nenhuma parte, Deus está, portanto, em toda parte; Deus,
estando por toda parte, uma vez que tudo é parte integrante de Deus,
dá a todos os fenômenos da natureza uma razão de ser inteligente. O
que se pode opor a esse raciocínio?
– A razão. Refleti maduramente e não vos será difícil reconhecer o
absurdo disso.
* Esta doutrina faz de Deus um ser material que, embora dotado de
uma inteligência suprema, seria em tamanho grande o que nós somos
em tamanho pequeno. Uma vez que a matéria se transforma sem parar,
se assim for, Deus não teria nenhuma estabilidade, estaria sujeito a todas
as mudanças e variações, a todas as necessidades da humanidade, e
lhe faltaria um dos atributos essenciais da Divindade: a imutabilidade.
Não se pode imaginar que são as mesmas as propriedades da matéria
e a essência de Deus, sem O rebaixar na nossa concepção. Todas as
sutilezas do sofisma (3) não conseguirão resolver o problema na sua natu-
reza íntima. Não sabemos tudo o que Deus é, mas sabemos o que não
pode deixar de ser, e a teoria do panteísmo está em contradição com
suas propriedades mais essenciais; ela confunde o criador com a criatu-
ra, exatamente como se afirmasse categoricamente que uma máquina
engenhosa fosse parte integrante do mecânico que a concebeu.
A inteligência de Deus se revela em suas obras como a de um pintor
em seu quadro, mas as obras de Deus não são o próprio Deus, assim
como o quadro não é o pintor que o concebeu e executou.

3 - Sofisma: argumento falso, enganoso, feito de propósito para induzir ao erro (N. E.).

quarta-feira, 18 de maio de 2011

ATRIBUTOS DA DIVINDADE


10 O homem pode compreender a natureza íntima de Deus?
– Não, falta-lhe, para isso, um sentido.
11 Um dia será permitido ao homem compreender o mistério da
Divindade?
– Quando seu Espírito não estiver mais obscurecido pela matéria e,
pela sua perfeição, estiver mais próximo de Deus, então o verá e o com-
preenderá.
* A inferioridade das faculdades do homem não lhe permite compreen-
der a natureza íntima de Deus. Na infância da humanidade, o homem O
confunde muitas vezes com a criatura, da qual lhe atribui as imperfeições;
mas, à medida que o senso moral nele se desenvolve, seu pensamento
compreende melhor o fundo das coisas e ele faz uma idéia de Deus mais
justa e mais conforme ao seu entendimento, embora sempre incompleta.
12 Se não podemos compreender a natureza íntima de Deus,
podemos ter idéia de algumas de suas perfeições?
– Sim, de algumas. O homem as compreende melhor à medida que
se eleva acima da matéria. Ele as pressente pelo pensamento.
13 Quando dizemos que Deus é eterno, infinito, imutável, imate-
rial, único, todo-poderoso, soberanamente justo e bom, não temos
uma idéia completa de seus atributos?
– Do vosso ponto de vista, sim, porque acreditais abranger tudo. Mas
ficai sabendo bem que há coisas acima da inteligência do homem mais
inteligente e que a vossa linguagem, limitada às vossas idéias e sensa-
ções, não tem condições de explicar. A razão vos diz, de fato, que Deus
deve ter essas perfeições em grau supremo, porque se tivesse uma só de
menos, ou que não fosse de um grau infinito, não seria superior a tudo e,
por conseguinte, não seria Deus. Por estar acima de todas as coisas, Ele
não pode estar sujeito a qualquer instabilidade e não pode ter nenhuma
das imperfeições que a imaginação possa conceber.
* Deus é eterno. Se Ele tivesse tido um começo teria saído do nada,
ou teria sido criado por um ser anterior. É assim que, de degrau em
degrau, remontamos ao infinito e à eternidade.
É imutável; se estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o
universo não teriam nenhuma estabilidade.
É imaterial, ou seja, sua natureza difere de tudo o que chamamos
matéria; de outro modo não seria imutável, porque estaria sujeito às
transformações da matéria.
É único; se houvesse vários deuses, não haveria unidade de desíg-
nios, nem unidade de poder na ordenação do universo.
É todo-poderoso, porque é único. Se não tivesse o soberano poder,
haveria alguma coisa mais ou tão poderosa quanto Ele; não teria feito
todas as coisas e as que não tivesse feito seriam obras de um outro Deus.
É soberanamente justo e bom. A sabedoria providencial das Leis
Divinas se revela nas menores como nas maiores coisas, e essa sabe-
doria não permite duvidar de sua justiça nem de sua bondade.

 O texto colocado após o travessão na seqüência das perguntas é a resposta que os Espíritos
deram. O sinal * indica que é um comentário de Kardec às respostas dos Espíritos (N. E.).


terça-feira, 17 de maio de 2011

PARTE PRIMEIRA AS CAUSAS PRIMÁRIAS


CAPÍTULO 1

DEUS

DEUS E O INFINITO
1 O que é Deus?
– Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.1
2 O que devemos entender por infinito?
– O que não tem começo nem fim; o desconhecido; tudo o que é
desconhecido é infinito.
3 Poderíamos dizer que Deus é infinito?
– Definição incompleta. Pobreza da linguagem dos homens, que é
insuficiente para definir as coisas que estão acima de sua inteligência.
* Deus é infinito em suas perfeições, mas o infinito é uma abstra-
ção. Dizer que Deus é infinito é tomar o atributo (2) de uma coisa por ela
própria, é definir uma coisa que não é conhecida por uma outra igual-
mente desconhecida.
PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS
4 Onde podemos encontrar a prova da existência de Deus?
– Num axioma que aplicais às vossas ciências: não há efeito sem
causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem, e a vossa
razão vos responderá.
* Para acreditar em Deus, basta ao homem lançar os olhos sobre as
obras da criação. O universo existe, portanto ele tem uma causa. Duvi-
dar da existência de Deus seria negar que todo efeito tem uma causa e
admitir que o nada pôde fazer alguma coisa.
5 Que conclusão podemos tirar do sentimento intuitivo que todos
os homens trazem em si mesmos da existência de Deus?
– A de que Deus existe; de onde lhes viria esse sentimento se repou-
sasse sobre o nada? É ainda uma conseqüência do princípio de que não
há efeito sem causa.
6 O sentimento íntimo que temos em nós da existência de Deus
não seria o efeito da educação e das idéias adquiridas?
– Se fosse assim, por que vossos selvagens teriam também esse
sentimento?
* Se o sentimento da existência de um ser supremo fosse o produto
de um ensinamento, não seria universal. Somente existiria naqueles que
tivessem recebido esse ensinamento, como acontece com os conheci-
mentos científicos.
7 Poderemos encontrar a causa primária da formação das coisas
nas propriedades íntimas da matéria?
– Mas, então, qual teria sido a causa dessas propriedades? Sempre é
preciso uma causa primária.
* Atribuir a formação primária das coisas às propriedades íntimas
da matéria seria tomar o efeito pela causa, porque essas propriedades
são elas mesmas um efeito que deve ter uma causa.
8 O que pensar da opinião que atribui a formação primária a uma
combinação acidental e imprevista da matéria, ou seja, ao acaso?
– Outro absurdo! Que homem de bom senso pode conceber o acaso
como um ser inteligente? E, além de tudo, o que é o acaso? Nada.
* A harmonia que regula as atividades do universo revela combina-
ções e objetivos determinados e, por isso mesmo, um poder inteligente.
Atribuir a formação primária ao acaso seria um contra-senso, porque o
acaso é cego e não pode produzir os efeitos que a inteligência produz.
Um acaso inteligente não seria mais um acaso.
9 Onde é que se vê na causa primária a manifestação de uma
inteligência suprema e superior a todas as inteligências?
– Tendes um provérbio que diz: “Pela obra reconhece-se o autor.”
Pois bem: olhai a obra e procurai o autor. É o orgulho que causa a incredu-
lidade. O homem orgulhoso não admite nada acima dele; é por isso que
se julga um espírito forte. Pobre ser, que um sopro de Deus pode abater!
* Julga-se o poder de uma inteligência por suas obras. Como ne-
nhum ser humano pode criar o que a natureza produz, a causa primária
é, portanto, uma inteligência superior à humanidade.
Quaisquer que sejam os prodígios realizados pela inteligência humana,
essa inteligência tem ela mesma uma causa e, quanto mais grandioso for
o que ela realize, maior deve ser a causa primária. É essa inteligência
superior que é a causa primária de todas as coisas, qualquer que seja o
nome que o homem lhe queira dar.


1 - O texto colocado após o travessão na seqüência das perguntas é a resposta que os Espíritos
deram. O sinal * indica que é um comentário de Kardec às respostas dos Espíritos (N. E.).
2 - Atributo: qualidade de um ser, aquilo que lhe é próprio. Neste caso, ser infinito é uma das
qualidades de Deus entre todas as demais, mas não é só isso, ou não é o bastante para O con-
cebermos (N. E.).


segunda-feira, 16 de maio de 2011

Princípios Básicos


Os fenômenos que estão além das leis da ciência comum se ma-
nifestam por toda parte e revelam na causa que os produz a ação de
uma vontade livre e inteligente.
A razão diz que um efeito inteligente deve ter como causa uma
força inteligente, e os fatos provaram que essa força pode entrar em
comunicação com os homens por meio de sinais materiais.
Essa força, interrogada sobre sua natureza, declarou pertencer
ao mundo dos seres espirituais que se libertaram do corpo carnal do
homem. Foi assim que a Doutrina dos Espíritos foi revelada.
As comunicações entre o mundo espírita e o mundo corporal estão
na ordem natural das coisas e não constituem nenhum fato sobrenatural,
é por isso que seus vestígios são encontrados entre todos os povos e em
todas as épocas e hoje são comuns e evidentes para todos.
Os Espíritos anunciam que os tempos marcados pela Providên-
cia para uma manifestação universal chegaram e que, sendo os men-
sageiros de Deus e os agentes de sua vontade, sua missão é instruir
e esclarecer os homens ao abrir uma nova era para a regeneração da
humanidade.
Este livro contém os seus ensinamentos, foi escrito por ordem e
sob o ditado dos Espíritos Superiores para estabelecer os fundamen-
tos de uma filosofia racional, isenta dos preconceitos sistemáticos;
não contém nada que não seja a expressão do pensamento deles e
que não tenha sido submetido ao seu controle. Somente a ordem e a
distribuição metódica das matérias, assim como as notas e a forma
de algumas partes da redação, são obra daquele que recebeu a mis-
são de publicá-lo.
Entre os Espíritos que concorreram para a realização desta obra,
muitos viveram em diversas épocas na Terra, onde pregaram e prati-
caram a virtude e a sabedoria; outros não pertencem, pelo nome, a
nenhum personagem cuja lembrança a história tenha guardado, mas
sua elevação é atestada pela pureza dos seus ensinamentos e sua
união com aqueles que trazem nomes venerados.
Eis em que termos nos deram por escrito, e por intermédio de
muitos médiuns, a missão de escrever este livro:
“Ocupa-te com zelo e perseverança do trabalho que empreen-
deste com a nossa cooperação, porque esse trabalho é nosso. Nele
pusemos as bases do novo edifício que se eleva e deve um dia reunir
todos os homens num mesmo sentimento de amor e de caridade; mas
antes de o publicares, nós o reveremos em conjunto, a fim de verificar
todos os seus detalhes.
Estaremos contigo todas as vezes que o pedires e para te ajudar
em todos os outros trabalhos, porque isso é somente uma parte da
missão que te foi confiada e que já te foi revelada por um de nós.
Entre os ensinamentos que te são dados, há alguns que deves
guardar somente para ti, até nova ordem. Nós vamos te indicar quando
o momento de publicá-los tiver chegado. Enquanto esperas, examina-
os e medita sobre eles, para estares pronto quando o dissermos.
Coloca no início do livro a cepa de vinha que te desenhamos*,
como emblema do trabalho do Criador; todos os princípios materiais
que podem melhor representar o corpo e o Espírito estão nela reuni-
dos: o corpo é a cepa; o Espírito é o licor; a alma ou o Espírito unido à
matéria é o bago da uva. O homem purifica o Espírito pelo trabalho e tu
sabes que é somente pelo trabalho do corpo que o Espírito adquire
conhecimento.
Não te deixes desencorajar pela crítica. Encontrarás opositores fero-
zes, especialmente entre as pessoas interessadas nos abusos. Irás en-
contrá-los, também, mesmo entre os Espíritos, porque aqueles que não
são completamente desmaterializados freqüentemente procuram
semear a dúvida pela malícia ou ignorância; mas continua sempre, acre-
dita em Deus e marcha com confiança: aqui estaremos para te sustentar
e está próximo o tempo em que a Verdade brilhará por toda parte.
A vaidade de alguns homens que acreditam saber tudo e querem
explicar tudo à sua maneira fará surgir opiniões divergentes, mas todos
que tiverem em vista o grande princípio de Jesus vão se irmanar num
mesmo sentimento de amor ao bem e se unir por um laço fraternal que
abrangerá o mundo inteiro. Eles deixarão de lado as disputas mesqui-
nhas de palavras para apenas se ocupar das coisas essenciais, e a Dou-
trina será sempre a mesma, quanto ao fundo, para todos aqueles que
receberem as comunicações dos Espíritos Superiores.
É com a perseverança que chegarás a recolher o fruto de teus
trabalhos. O prazer que experimentarás ao ver a Doutrina se propagar
e ser compreendida será uma recompensa da qual conhecerás todo o
valor, talvez mais no futuro do que no presente. Não te inquietes, por-
tanto, com os espinhos e as pedras que os incrédulos ou os maus
semearão no teu caminho; conserva a confiança: com a confiança
chegarás ao objetivo e merecerás ser sempre ajudado.
Lembra-te que os bons Espíritos somente assistem aos que ser-
vem a Deus com humildade e desinteresse e repudiam todo aquele
que procura no caminho do céu um degrau para conquistar as coisas
da Terra; eles se distanciam dos orgulhosos e ambiciosos. O orgulho
e a ambição serão sempre uma barreira entre o homem e Deus; são
um véu lançado sobre as claridades celestes, e Deus não pode se
servir do cego para fazer compreender a luz.”

São João Evangelista, Santo Agostinho, São Vicente de Paulo,
São Luís, O Espírito da Verdade, Sócrates, Platão,
Fénelon, Franklin, Swedenborg, etc.

* A cepa (ramo de parreira) que se vê no início é a reprodução fiel da que foi desenhada pelos Espíritos (Nota de Kardec).

domingo, 15 de maio de 2011

17. A DOUTRINA E AS OBRAS DE DEUS


A descrença com que se têm referido à Doutrina Espírita, quando
não é o resultado de uma oposição sistemática interesseira, tem quase
sempre origem no conhecimento incompleto dos fatos, o que não impe-
de algumas pessoas de abordar e decidir a questão como se a conhe-
cessem perfeitamente. Pode-se ser muito inteligente, ter muita instrução
e não se ter bom senso; portanto, o primeiro indício de falta de discerni-
mento quando se julga é acreditar ser infalível. Muitas pessoas também
vêem as manifestações espíritas somente como curiosidade; esperamos
que pela leitura deste livro elas encontrem nesses extraordinários fenô-
menos outra coisa além de um simples passatempo.
A ciência espírita compreende duas partes: uma experimental,
sobre as manifestações em geral, e outra filosófica, sobre as manifes-
tações inteligentes. Todo aquele que somente observou a primeira
está na posição de quem conhece a física apenas por experiências
recreativas, sem ter penetrado a fundo na ciência. A verdadeira Dou-
trina Espírita está no ensinamento dado pelos Espíritos, e os conheci-
mentos que esse ensinamento comporta são muito sérios para serem
adquiridos de qualquer outro modo que não seja por um estudo aten-
cioso e contínuo, feito no silêncio e no recolhimento, porque somente
nessa condição pode-se observar um número infinito de fatos e de
detalhes que escapam ao observador superficial e permitem firmar
uma opinião. Se este livro não tivesse outra finalidade que não fosse
mostrar o lado sério da questão e de provocar estudos nesse sentido,
para nós já seria bastante honroso e ficaríamos felizes por ter realiza-
do uma obra a que não pretendemos, de resto, nos atribuir mérito pes-
soal, uma vez que seus princípios não são de nossa criação e o seu
mérito é inteiramente dos Espíritos que a ditaram. Esperamos que ela
tenha um outro resultado: o de guiar os homens desejosos de se
esclarecer, mostrando-lhes nestes estudos um objetivo grande e
sublime: o do progresso individual e social, e de lhes indicar o cami-
nho a seguir para atingi-lo.
Concluímos com uma última consideração. Os astrônomos, ao
sondar os espaços, encontraram na distribuição dos corpos celestes
lacunas não justificadas e em desacordo com as leis do conjunto. Eles
supuseram que essas lacunas deveriam estar ocupadas por globos
que escapavam à sua observação, mas, ao mesmo tempo, observa-
ram alguns efeitos cuja causa desconheciam e concluíram: “Aí deve
haver um mundo, porque essa lacuna não pode existir e esses efeitos
devem ter uma causa”. Analisando, então, a causa pelo efeito, pude-
ram calcular os elementos, e mais tarde os fatos vieram justificar suas
previsões. Apliquemos esse mesmo raciocínio a uma outra ordem de
idéias. Se observarmos todas as criaturas, verificaremos que formam
uma cadeia, sem interrupção, desde a matéria bruta até o homem
mais inteligente. Mas entre o homem e Deus, o alfa e o ômega27 de
todas as coisas, que imensa lacuna! É racional pensar que terminem
no homem os elos dessa cadeia? Ou que ele possa transpor de uma
vez a distância que o separa do infinito? A razão nos diz que entre o
homem e Deus deve haver outros escalões, como disse aos astrôno-
mos que entre os mundos conhecidos devia haver outros mundos des-
conhecidos. Qual é a filosofia que preencheu essa lacuna? O Espiri-
tismo a mostra ocupada por seres de todas as categorias do mundo
invisível, e esses seres não são outros senão os Espíritos dos ho-
mens que atingiram os diferentes graus que conduzem à perfeição;
então, tudo se liga, tudo se encaixa, desde o alfa até o ômega (27). Vós
que negais a existência dos Espíritos, preenchei, portanto, o vazio
que eles ocupam; e vós que rides deles, ousai rir das obras de Deus e
de seu grande poder!
Allan Kardec

27 - Alfa e ômega: respectivamente a primeira e a última letra do alfabeto grego. Neste caso, o
princípio e o fim (N. E.).

sábado, 14 de maio de 2011

16. TEORIAS ENGANADORAS


Resta-nos examinar duas objeções; as únicas que merecem ver-
dadeiramente esse nome, porque são baseadas em teorias racionais.
Ambas admitem a realidade de todos os fenômenos materiais e mo-
rais, mas excluem a intervenção dos Espíritos.
A primeira dessas teorias diz que todas as manifestações atribuí-
das aos Espíritos não seriam outra coisa senão efeitos magnéticos.
Os médiuns entrariam num estado que se poderia chamar de sonam-
bulismo acordado, fenômeno do qual toda pessoa que estudou o mag-
netismo pôde verificar e testemunhar. Nesse estado, as capacidades
intelectuais adquirem um desenvolvimento anormal; o círculo das per-
cepções intuitivas se estende além dos limites de nossa concepção
normal. Dessa maneira, o médium tiraria de si mesmo e por efeito de
sua lucidez tudo o que diz e todas as noções que transmite, mesmo
sobre assuntos que lhe são completamente desconhecidos quando
se acha no seu estado normal.
Não seremos nós que contestaremos a força do sonambulismo, do
qual vimos os extraordinários fenômenos e os estudamos em todas as
fases durante mais de 35 anos. Concordamos, de fato, que muitas mani-
festações espíritas podem se explicar por ele, mas uma observação
paciente e atenta mostra uma multidão de fatos em que a intervenção do
médium, a não ser como instrumento passivo, é materialmente impossível.
Àqueles que partilham dessa opinião diremos como aos outros: vede e
observai, pois seguramente não vistes tudo. Em seguida propomos duas
considerações tiradas de sua própria doutrina. De onde veio a teoria
espírita? É um sistema imaginado por alguns homens para explicar os
fatos? De modo algum. Quem a revelou? Precisamente esses mesmos
médiuns dos quais exaltais a lucidez. Se, portanto, essa lucidez é exata-
mente como a supondes, por que teriam eles atribuído aos Espíritos o
que possuíam em si mesmos? Como dariam esses ensinamentos tão
precisos, lógicos e sublimes sobre a natureza dessas inteligências extra-
humanas? De duas coisas, uma: ou são lúcidos ou não o são; se o são e
se se pode confiar em sua veracidade, não haveria como, sem contradi-
ção, admitir que não estão com a verdade. Em segundo lugar, se todos
os fenômenos tivessem origem no médium, seriam idênticos no mesmo
indivíduo e não se veria a mesma pessoa manifestar-se em linguagens
diferentes e exprimir alternativamente as mais polêmicas idéias. Essa
falta de unidade nas manifestações obtidas por um mesmo médium prova
a diversidade das fontes; se, portanto, não se pode encontrá-las todas no
médium, é preciso procurá-las fora dele.
Uma outra opinião diz que o médium é a fonte das manifestações,
mas, em vez de as tirar de si mesmo, assim como o pretendem os par-
tidários da teoria sonambúlica, as tira do meio ambiente. Assim sendo, o
médium seria uma espécie de espelho refletindo todas as idéias, pensa-
mentos e conhecimentos das pessoas que o rodeiam; não diria nada que
já não fosse conhecido pelo menos por alguns. Não se poderia negar, e
isso é mesmo um princípio da Doutrina, a influência exercida pelos assis-
tentes sobre a natureza das manifestações. Porém, essa influência é
diferente da que os opositores supõem existir, e daí a ser o médium o eco
dos pensamentos daqueles que o rodeiam há uma grande distância, vis-
to que milhares de fatos demonstram indiscutivelmente o contrário. Por-
tanto, há nisso um erro grave que atesta, uma vez mais, o perigo das
conclusões prematuras. Essas pessoas, não podendo negar a existência
de um fenômeno que a ciência comum não pode explicar e não queren-
do admitir a presença dos Espíritos, o explicam a seu modo. Esta teoria,
embora enganosa, seria atraente se pudesse abraçar todos os fatos,
mas não é assim. Quando se lhes demonstra com a clareza mais lógica
que algumas comunicações do médium são completamente estranhas
ao pensamento, aos conhecimentos, às próprias opiniões de todos os
assistentes, que essas comunicações são, muitas vezes, espontâneas e
contradizem todas as idéias preconcebidas, eles não recuam e nem se
dão por convencidos. A irradiação, dizem, estende-se muito além do cír-
culo imediato que nos rodeia; o médium é o reflexo de toda a humanida-
de, de forma que, se não tira suas inspirações das coisas que estão ao
seu redor, vai procurá-las fora, na cidade, no país, em todo o globo e
mesmo em outras esferas.
Não creio que se encontre nessa teoria uma explicação mais sim-
ples e mais provável que a do Espiritismo, embora revele uma causa
bem mais maravilhosa. Porém, a idéia de que seres inteligentes po-
voam os espaços e que, estando em contato permanente conosco,
nos comunicam seus pensamentos, nada tem que choque mais a razão
do que se supor que essa irradiação universal vinda de todos os pontos
do universo possa concentrar-se no cérebro de um indivíduo.
Ainda uma vez, e esse é um ponto importante sobre o qual nunca
é demais insistir: tanto a teoria sonambúlica quanto a que se poderia
chamar refletiva foram imaginadas por alguns homens; são opiniões
individuais criadas para explicar um fato, enquanto a Doutrina dos
Espíritos não é de concepção humana. Foi ditada pelas próprias inte-
ligências que se manifestaram quando ninguém sequer a concebia e
que a própria opinião geral a repelia. Portanto, perguntamos: de onde
os médiuns foram tirar uma doutrina que não existia no pensamento de
ninguém na Terra? E perguntamos mais: por que estranha coincidência
milhares de médiuns espalhados por todos os pontos do globo, que
nunca se viram, combinaram dizer a mesma coisa? Se o primeiro
médium que apareceu na França revelou a influência das mesmas opi-
niões já aceitas nos Estados Unidos, por que razão teria ido procurar
essas idéias a 2000 léguas além dos mares, entre um povo de costu-
mes e linguagem estranhos, em vez de procurá-las ao seu redor?
Mas há uma outra particularidade sobre a qual não se tem pensado
o suficiente. É que as primeiras manifestações, tanto na França quanto
nos Estados Unidos, não ocorreram pela escrita, nem pela fala, mas por
pancadas que concordavam com as letras do alfabeto formando pala-
vras e frases. Foi por esse meio que as inteligências que se revelavam
declararam ser Espíritos. Se pudermos, portanto, supor que haja a inter-
venção do pensamento dos médiuns nas comunicações verbais ou
escritas, o mesmo não pode ter ocorrido com as pancadas, cuja signifi-
cação não poderia ser conhecida com antecedência.
Poderíamos citar muitos outros fatos que demonstram, na inteligên-
cia que se manifesta, uma individualidade evidente e uma independência
absoluta de vontade. Remetemos, entretanto, os discordantes a uma ob-
servação mais atenta, e se querem estudar sem prevenção e não con-
cluir antes de terem visto tudo, reconhecerão a fragilidade de sua teoria
para explicar os fatos. Nós nos limitaremos a colocar as questões seguin-
tes: por que a inteligência que se manifesta, seja ela qual for, recusa-se a
responder a algumas questões sobre assuntos perfeitamente conheci-
dos, como, por exemplo, sobre o nome ou a idade do interrogador, sobre
o que tem na mão, o que fez na véspera e o que fará no dia seguinte, etc.?
Se o médium é de fato o espelho do pensamento dos assistentes, nada
haveria de ser mais fácil do que dar essas respostas.
Os adversários retrucam o argumento ao perguntar, por sua vez,
por que os Espíritos, que devem saber tudo, não podem responder a
coisas tão simples, de acordo com o axioma (26) Quem pode o mais
pode o menos, concluindo, daí, que não são respostas dos Espíritos.
Se um ignorante ou um zombador se apresentasse diante de uma
assembléia de sábios e perguntasse, por exemplo, por que faz dia em
pleno meio-dia, acredita-se que alguém se desse ao trabalho de res-
ponder seriamente? Seria razoável por isso concluir, pelo silêncio ou
desdém que se desse ao interrogador, que os componentes dessa
assembléia são tolos? Portanto, é precisamente porque os Espíritos
são superiores que não respondem às questões inúteis e ridículas e
não querem se pôr em evidência, é por isso que se calam ou dizem se
ocupar com coisas mais sérias.
Perguntaremos, por fim, por que os Espíritos vêm e vão freqüen-
temente num dado momento, e por que, passado esse momento, não
há preces nem súplicas que os possam trazer de volta? Se o médium
somente agisse como um reflexo do impulso mental dos assistentes,
é evidente que, nessa circunstância, o concurso de todas as vontades
reunidas deveria estimular sua clarividência. Se não cede ao desejo
da assembléia, fortalecido também por sua própria vontade, é porque
obedece a uma influência estranha a ele mesmo e aos que estão à
sua volta, e que essa influência demonstra, por esse fato, sua inde-
pendência e sua individualidade.


26 - Axioma: princípio evidente que é aceito como universalmente verdadeiro, sem exigência de
demonstração (N. E.).